A estratégia das indústrias
Texto: Redação Revista Anamaco
A decisão dos governos estaduais de fechar o comércio - considerado não essencial - causa um impacto grande nas ruas, que estão vazias, com boa parte dos brasileiros entendendo a necessidade do isolamento social para conter o avanço do coronavírus (Covid-19). Se na ponta, o varejo de material de construção fechou, como estão os negócios nas indústrias do setor?
Alguns fabricantes optaram por suspender, temporariamente, as operações, mas outros decidiram manter as atividades. Esse é o caso da Vedacit. Com unidades fabris em São Paulo e na Bahia, a produção está mantida. Marcos Bicudo, presidente da empresa, justifica a opção dizendo que, perante esse cenário de incerteza, a medida visa garantir a disponibilidade de produtos no mercado.
Consciente da gravidade da situação - o País, oficialmente, decretou estado de calamidade pública - Bicudo revela que, desde o primeiro alerta, a companhia estabeleceu um Comitê que se mantém atento às atualizações oficiais diárias emitidas pelos governos Federal e Estadual e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e foram estipuladas medidas para garantir a integridade de cada colaborador. Diante disso, implantou diversas ações, que estão sendo revisadas diariamente, para preservar os profissionais.
Apesar da produção seguir firme, os colaboradores de outras áreas que conseguem administrar o trabalho por meio do home-office assim estão fazendo. “Para àqueles que não conseguem se ausentar das posições operacionais, estamos dando todo o auxílio necessário à saúde dentro da empresa, inclusive fazendo ajustes na rotina de trabalho. Assim como cuidar da saúde das habitações é nosso propósito, zelar pela saúde dos funcionários e das suas famílias sempre será nossa prioridade”, garante o executivo, acrescentando que a comunicação da empresa, por meio dos canais usuais e da liderança, mantém os colaboradores informados sobre a evolução do coronavírus no Brasil e sobre a rotina do trabalho.
A crise na saúde alterou a data de muitos eventos programados para este primeiro semestre. O Salão Internacional de Arquitetura e Construção (Feicon Batimat), que seria realizado entre os dias 31 de março e 03 de abril, foi reagendado e deverá acontecer entre 15 e 18 de setembro. A Vedacit, umas das expositoras do evento, iria apresentar uma nova linha de Selantes durante a feira e manteve o cronograma de lançamento. “Nosso cronograma foi mantido, mesmo com a alteração da Feicon. Para a feira, estava programada a apresentação da linha de Selantes, que foi divulgada na nossa convenção no início do mês e já está nas lojas. Na exposição, vamos reforçar esse lançamento e o novo posicionamento da marca”, comenta Bicudo.
Embora não tenha suspendido as atividades, o executivo analisa que a construção civil deverá ser impactada de forma importante pela crise. Na sua avaliação, no curto prazo, haverá a desaceleração do consumo “formiguinha” e a postergação de novos projetos e investimentos tanto no setor imobiliário, como nas grandes obras de infraestrutura. “A retomada sustentada do setor será adiada por, pelo menos, um ano. O trabalho, agora, é de muita colaboração entre todos os agentes da cadeia para manter as operações e as relações comerciais funcionando, ainda que num patamar reduzido. Seguramente, temos a capacidade e resiliência para ultrapassar mais este desafio”, pontua.
Indústrias fazem doação de EPI´s
Astra e Japi também estabeleceram um comitê de crise em conjunto. Formado por representantes do conselho, diretoria, recursos humanos, comunicação e consultores, é responsável por discutir e elaborar ações para minimizar os impactos da pandemia nos negócios das empresas e, consequentemente, na rotina de seus colaboradores, parceiros, fornecedores e clientes.
E mais do que pensar nesse público, as empresas estão preocupadas com as equipes de saúde que estão na linha de frente neste momento de crise. Dessa forma, resolveram doar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como óculos, máscaras e protetores faciais para o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da cidade de Jundiaí (SP), que irá redirecionar o material aos órgãos de saúde do município. “Se todas as empresas em nosso País adotarem esta ação, conseguiremos ajudar muito. Depois que divulgamos a iniciativa em nossas redes sociais, começamos a receber uma série de ligações de hospitais e empresas ligadas à saúde de várias cidades e Estados; todos pedindo doações. A necessidade é enorme, precisamos de um grande movimento para conseguirmos ajudar”, destaca Manoel Fernandes Flores, diretor superintendente da Astra.
Paralisação momentânea, a solução para alguns fabricantes
Paralisar as atividades foi a saída encontrada por alguns fabricantes para enfrentar esse momento de crise. Muitas indústrias usaram as redes sociais para comunicar a decisão e informar o período em que a produção estará suspensa.
A Astra está atuando parcialmente desde o dia 24 de março. Foram concedidas férias a mais de 70% dos colaboradores. Além disso, as pessoas do grupo de risco não estão exercendo suas atividades desde o dia 19 de março e a empresa está com um efetivo de 30 pessoas administrativas em home office. A previsão de retorno às atividades normais é dia 13 de abril. “Nós atuamos no Brasil todo e continuamos recebendo pedidos de clientes. Atender esta demanda é fundamental neste momento para que possamos suprir as necessidades do mercado e manter a empresa ativa”, destaca Joaquim Coelho, diretor Comercial da Astra.
Para manter a segurança dos colaboradores que estão trabalhando, a Astra adotou uma série de medidas preventivas, como distribuição de álcool em gel em diversas áreas comuns das unidades da empresa; reforço na limpeza de banheiros, outros ambientes comuns e maçanetas; abertura de portas e janelas para melhor arejamento das áreas, evitando o uso de ar condicionado; distanciamento nas mesas dos refeitórios, para que os colaboradores possam se sentar longe uns dos outros; campanhas de comunicação espalhadas em diversos pontos da empresa, inclusive bebedouros, banheiros e restaurantes.
A Japi, por sua vez, concedeu férias para todos os colaboradores com férias vencidas e suspendeu suas atividades, a princípio até o dia 03 de abril, mantendo os demais colaboradores em casa, utilizando o sistema de banco de horas. Atualmente, apenas uma pequena equipe encontra-se nas instalações da empresa para atender alguns pedidos urgentes de clientes. A outra parte, de áreas administrativas, também está em home office desde o dia 23 de março. Os colaboradores que estão trabalhando na fábrica seguem todas as medidas preventivas que a empresa vem adotando em suas dependências desde o dia 12 de março. “Para nós, é fundamental preservar a saúde dos nossos colaboradores e garantir que os clientes continuem sendo atendidos. Estamos à disposição para dar todo suporte necessário”, conta Diego Matos, gerente comercial da Japi.
A Abrasivos Berwanger, por exemplo, conta que, em um primeiro momento, entre os dias 23 e 31 de março estará fora de operação, umas vez que as transportadoras estão restringindo suas coletas e entregas para transportar medicamentos, alimentos e material de higiene e não têm, ainda, data prevista para normalização de entrega de outros tipos de produtos.
A Krona, por sua vez, que há havia adotado medidas para proteger as pessoas e minimizar os impactos do coronavírus, por meio do Comitê de Riscos decidiu interromper totalmente as operações em suas unidades, desde a última sexta-feira, 20 de março, às 22h. A empresa, que possui fábricas em Joinville (SC) - matriz e acessórios -, além de Marechal Deodoro (AL), emprega, aproximadamente, 1.500 pessoas.
A previsão é de que as unidades matriz e acessórios retomem as atividades no próximo dia 29 de março, às 22h30 (turnos operacionais) e no dia 30, às 8h (turno administrativo). A unidade Nordeste retorna no dia 31 de março, às 5h20 (turnos operacionais) e 7h30 (turno administrativo).
Segundo a empresa, o Comitê de Riscos da Krona reúne-se, diariamente, para acompanhar e deliberar sobre novas medidas necessárias. O foco das ações é a prevenção da disseminação do vírus e perenidade do negócio.
Com sede em Criciúma (SC), a Anjo Tintas, depois de adotar algumas estratégias de cuidados com os seus colaboradores diante do aumento de casos da doença no Brasil, decidiu que os profissionais das áreas comercial externa e interna e de setores administrativos trabalhem em home-office. E desde ontem - 23 de março - quase todos os profissionais da produção, laboratórios, comercial e administrativo entraram em férias.
A empresa destaca que, como possui uma unidade produtiva que trabalha com tintas para embalagens de alimentos e produtos de limpeza, essa planta não pode parar em função de atender o aumento da demanda em supermercados, porém estará trabalhando com quadro reduzido ao mínimo possível para não desabastecer o mercado. “As ações reforçam a preocupação e o compromisso da Anjo em pensar, em primeiro lugar, na saúde dos nossos colaboradores", diz Filipe Colombo, CEO da empresa.
A diretoria da Pormade, também emitiu um comunicado informando que, zelando pela saúde, segurança e bem-estar dos seus colaboradores, fornecedores e amigos, entrou em férias coletivas, pelo período inicial de 15 dias, a partir de 18 de março.
Mesma medida foi adotada pela Irmãos Corso. Em resposta à quarentena decretada em todo o Estado de São Paulo, a empresa entrou em férias coletivas. Inicialmente, a paralisação será entre hoje (24 de março) até o dia 06 de abril.
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