Alerta para Inflação e juros altos
Texto: RedaçãoRevista Anamaco
Uma preocupação a mais para o varejo: a inflação. Foi nesse contexto de preços pressionados e temor de que a inflação fique fora da meta (projetada em 3,75% este ano), que foi realizada mais uma pesquisa Termômetro. O estudo é realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), com exclusividade para a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
O “pé atrás” do varejo faz sentido porque as principais consequências desse cenário de alta de preços para o comércio são a redução do poder de compra das famílias e a alta dos juros. De acordo com a FGV, a dificuldade de comprimir esse tipo de gasto resulta em ameaça para a demanda por material de construção, já que é um tipo de despesa que pode ser adiada.
A alta dos juros também preocupa porque tende a piorar as condições de crédito, elevando o valor das parcelas. Dada a relevância crescente das vendas de material de construção feitas com o uso do parcelamento no cartão de crédito, a trajetória dos juros também se caracteriza como ameaça.
Diante desse cenário, a percepção de estabilidade dos participantes do levantamento com relação às vendas - nos três meses encerrados em julho - permaneceu predominante, respondendo por mais de metade das assinalações dos varejistas. As assinalações de alta foram melhores em relação a junho, passando de 26% para 35%.
O estudo aponta que a predominância do sentimento de estabilidade foi registrada em quase todas as regiões do País. A exceção foi no Norte, localidade em que as assinalações de crescimento superaram as de estabilidade em dois pontos percentuais.
Considerando a diferença entre indicações de crescimento e de queda nas vendas houve melhora em todas as regiões, com destaque, mais uma vez, para o Norte, onde esse indicador chegou a 44 p.p., seguido pelo Centro-Oeste, com 35 p.p. Os maiores níveis de percepção de queda foram registrados no Sul (16%) e Sudeste (14%).
Quando a pesquisa analisou os estabelecimentos segundo a principal categoria de produto comercializada, os números revelaram melhora generalizada na percepção sobre as vendas nos últimos três meses. À exceção das lojas especializadas em produtos básicos, nas principais categorias analisadas as assinalações de alta sempre superaram a marca de 30% das respostas. Essa percepção otimista avançou 11 p.p. frente a junho no caso das lojas de produtos para pintura. Já nos estabelecimentos especializados em produtos cerâmicos, as respostas positivas superaram as indicações de estabilidade que predominaram nas demais categorias.
Considerando os estabelecimentos segundo o número de funcionários, houve melhora expressiva nas respostas dadas pelo comércio de menor porte na comparação com o mês anterior. Assim, nos estabelecimentos com até quatro colaboradores, as assinalações positivas quanto às vendas nos últimos três meses passaram de 14% para 34% e, nas lojas com entre cinco e nove empregados, de 18% para 24%.
Na outra ponta, os home centers (mais de 99 funcionários) se mostraram bem menos otimistas em julho do que em junho: as assinalações positivas caíram de 68% para 46%.
Maioria dos varejistas aponta estabilidade em julho
Quando a FGV questionou os entrevistados sobre os resultados das vendas em julho, o Termômetro mostra ligeira melhora na avaliação dos varejistas. A parcela de respostas positivas passou de 33% para 38% na comparação com o mês anterior. As assinalações de estabilidade, entretanto, continuam predominando, tendo permanecido em 43%.
Considerando as empresas por especialidade, as assinalações de estabilidade das vendas em julho foram predominantes entre os revendedores de produtos básicos, material elétrico e pintura. Já o otimismo prevaleceu nas lojas especializadas em material hidráulico e revestimento cerâmico. Neste último segmento, as respostas positivas quanto às vendas correntes superaram a marca de 50%.
Em termos regionais, houve melhora em julho nas assinalações positivas em quase todo o Brasil, exceto no Centro-Oeste, onde o indicador retraiu um ponto percentual. Em todas as regiões as respostas otimistas foram superiores a 40%. A exceção foi no Sudeste (33%). A Região que registrou o maior nível de assinalações de queda nas vendas correntes foi o Sul (26%) seguido do Sudeste (21%).
Assim como observado na percepção sobre os últimos três meses, com relação às vendas de julho os maiores níveis de otimismo ficaram por conta dos grandes varejistas. Porém, a polarização frente aos pequenos diminuiu bastante. Assim, no comércio com até quatro funcionários a percepção de alta nas vendas correntes passou de 23% para 40% na comparação com junho. Nos home centers, o indicador passou de 59% para 63% no mesmo período.
Expectativa para os próximos meses
Depois da alta significativa registrada em junho, as expectativas dos revendedores de material de construção para os próximos três meses apresentaram estabilidade em julho. Em nível nacional, as assinalações de crescimento recuaram de 59% para 58%, enquanto as expectativas de queda caíram de 7% para 5%.
Em um movimento sazonal típico, as assinalações de crescimento no futuro predominaram em todas as regiões do País em julho. Em todas elas, as expectativas otimistas superaram amplamente as de queda. O menor diferencial entre as duas assinalações foi registrado no Sudeste e, ainda assim, em um patamar bastante elevado (44 p.p.). Já no Norte, essa diferença chegou a 72 p.p. Por sua vez, as respostas pessimistas quanto ao futuro das vendas não passaram de 6% em nenhuma região.
Considerando o porte das empresas segundo o número de funcionários, o Termômetro Anamaco revelou uniformidade na percepção dos lojistas. As expectativas de alta nas vendas nos próximos meses responderam por mais de metade das assinalações em todas as categorias, chegando a 68% no caso dos home centers (mais de 99 funcionários). No caso dos pequenos (até quatro colaboradores), o destaque foi o avanço nas assinalações otimistas que passaram de 52% para 61% entre junho e julho.
O que esperam das ações governamentais
A pesquisa revela, ainda, que, em julho, as expectativas positivas quanto às ações do governo nos próximos 12 meses apresentaram relativa estabilidade frente ao mês anterior. As assinalações otimistas oscilaram de 55% para 52%, enquanto as pessimistas passaram de 17% para 16%. Em termos regionais, as assinalações otimistas superaram a marca de 50% em todas as regiões, exceto no Sudeste, onde passaram de 49% para 46% entre junho e julho.
Considerando o porte do varejo por número de funcionários houve queda expressiva nas assinalações positivas entre os pequenos varejistas (até 4 colaboradores). Nessa categoria, o otimismo quanto às ações do governo nos próximos meses recuou de 56% para 38% entre junho e julho.
Vacinação e sazonalidade
De acordo com o estudo, a manutenção de um ritmo favorável de vacinação (mais de um milhão de doses diárias em média), somada à sazonalidade positiva típica do segundo semestre estão sustentando expectativas otimistas para os meses à frente. Essas assinalações subiram entre maio e junho e, em julho, mantiveram-se acima de 55%.
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