Brasileiros preocupados com a guerra - Revista Anamaco

Radar Febraban

Brasileiros preocupados com a guerra

Texto: Redação Revista Anamaco

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) acaba de divulgar os resultados do Radar Febraban de outubro, pesquisa bimestral realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), que revela a percepção e expectativa da sociedade sobre a vida, aspectos da economia e prioridades para o País.
Com cerca de duas mil entrevistas, a pesquisa mostra que é grande a preocupação dos brasileiros com a guerra entre Israel e o Hamas, o que diminui o otimismo dos brasileiros em relação à economia que, até então, era crescente.
O conflito acontece em meio a notícias positivas sobre crescimento da renda disponível das famílias brasileiras este ano e em um momento de queda da inflação. Mas também em um cenário de recuo nas vendas do varejo.
De acordo com o Ipespe, ainda sob o impacto da Guerra da Ucrânia, a economia global vê sua recuperação ameaçada pela guerra entre Israel e Hamas. À tragédia humanitária soma-se à apreensão com o impacto de eventual escalada regional do conflito sobre a elevação do preço do petróleo.
No Brasil, isso poderia gerar um efeito dominó sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço dos combustíveis, dos alimentos e de outros produtos, afetando diretamente o consumidor. Tais projeções negativas sobre o cenário internacional e os possíveis efeitos internos já afetam o clima da opinião pública entre os brasileiros: a guerra no Oriente Médio é uma preocupação para 83% dos entrevistados no Radar, que creem em consequências prejudiciais para a economia do País.

Economia global vê sua recuperação ameaçada pela guerra entre Israel e Hamas

Nesse cenário de incertezas no ambiente externo, embora a expectativa positiva sobre o futuro continue preponderante, o otimismo sobre a economia nacional sofreu recuo. De acordo com o levantamento, o número dos que acreditam que o Brasil vai melhorar até o final de 2023 caiu de 59% em setembro para 56% em outubro. Esse contingente alcança 67% entre os que têm nível superior; 66% entre os que têm renda acima de cinco salários mínimos; e 60% no Nordeste. Aqueles que não preveem mudanças no quadro até o final do ano subiram de 20% para 24%. Por sua vez, os pessimistas oscilaram um ponto, de 18% para 17%.
Se as expectativas mostram-se mais cautelosas, quanto ao presente as avalições sobre o País apresentam estabilidade com pequenas oscilações. A opinião de que o Brasil está melhor este ano do que em 2022 manteve-se em 48%. Já a avaliação de que está igual caiu três pontos (30%), e os que identificam piora oscilaram de 19% para 20%. Nesse contexto, a percepção de melhoria do País ultrapassa os 50% entre aqueles que têm nível superior (63%), renda acima de cinco  SM (62%) e entre os que vivem no Nordeste (51%).
O estudo indica, ainda, que, no âmbito pessoal e familiar, a expectativa favorável em relação ao restante de 2023 manteve-se em patamar elevado, voltando ao percentual de abril e junho (70%). O otimismo chega a 83% entre os jovens de 18 a 24 anos e a 77% entre os nordestinos. Os que acham que não haverá mudanças subiram de 18% em setembro para 20% em outubro, enquanto os que creem em piora ficaram estáveis em 8%.
Na dimensão da vida privada, a avaliação do momento atual comparado ao ano passado apresentou, em relação ao último levantamento, movimentos positivos, embora discretos. A parcela que percebe melhoria de vida entre 2022 e 2023 oscilou de 45% para 46%, ao passo que subiu dois pontos a percepção de piora (de 18% para 20%).
Os que não veem mudança caíram de 35% para 33%. Novamente, a noção de melhoria é mais expressiva entre os que têm nível superior e renda acima de 5 SM (57% e 56%, respectivamente). Entre as regiões, o Nordeste é, mais uma vez, a que mais percebe avanço (49%).
Quando o assunto é inflação, a opinião sobre a evolução,  comparativamente aos últimos seis meses, mantém tendência favorável. A percepção sobre aumento dos preços chega ao menor percentual da série histórica (53%), recuando dois pontos em relação a setembro; enquanto os que apontam diminuição da inflação e dos preços passam pela primeira vez de um quinto (de 20% para 24%).

No campo político, diante do impacto dos horrores da guerra no Oriente Médio e dos temores em relação às suas consequências, o clima da Opinião pública piora e a aprovação do Governo Lula recua

Já as projeções da população acerca dos indicadores acompanhados pelo Radar reiteram a atitude cautelosa quanto à economia, com poucas oscilações em relação ao levantamento anterior quanto às expectativas para os próximos seis meses.
Em relação aos impostos, a expectativa de aumento oscilou de 53% para 54%, chegando a 58% entre os que têm Ensino Médio e renda de 2 a 5 SM. A projeção de queda variou de 18% para 17%. Sobre a taxa de juros, a perspectiva de aumento, em linha descendente desde fevereiro, manteve-se em 45%; enquanto o percentual dos que acham que vai diminuir oscilou de 25% para 26%. Quando o assunto é o desemprego, o receio de aumento é declarado por 36%, dois pontos a mais do que em setembro. Essa expectativa desfavorável quanto ao mercado de trabalho é maior entre os que têm Ensino Médio (40%), no Norte (45%) e no Centro-Oeste (43%). Acompanhando a projeção sobre a inflação e o desemprego, caiu de 40% para 38% a parcela que aposta em aumento do poder aquisitivo. Os que acham que não haverá alteração foram de 22% para 25%; e a parcela mais pessimista, que acredita na diminuição do poder de compra, oscilou de 34% para 33%. O otimismo em relação à melhoria das condições de consumo da população é mais expressivo entre os que têm formação universitária (46%) e renda acima de 5 SM (45%). A pesquisa indica, ainda, que 41% dos entrevistados acreditam que vai aumentar o acesso ao crédito (eram 42% em setembro). Oscilou de 29% para 30% a opinião de que vai continuar como está; e de 22% para 23% a crença de que vai diminuir. O otimismo é mais acentuado entre os que têm nível superior (50%), renda acima de 5 SM (49%) e no Nordeste (45%).
No campo político, diante do impacto dos horrores da guerra no Oriente Médio e dos temores em relação às suas consequências, o clima da Opinião pública piora e a aprovação do Governo Lula recua. Nesse cenário, o Governo chega ao seu 10º mês com 53% de aprovação, sendo o segundo maior percentual da série histórica. Os que desaprovam somam 40%, mesmo patamar de junho. A aprovação do Governo se destaca entre os que têm escolaridade fundamental (60%), entre quem tem renda até 2SM (58%) e entre os nordestinos (64%).
O levantamento também destaca quais são as áreas prioritárias para a atuação do Governo Federal: Saúde (prioridade para 29% dos brasileiros) e Emprego/Renda (26%) estão no topo da lista com mais de um quarto das menções, seguidos de Educação (14%). Vale observar que itens como Inflação e custo de vida (7%), Fome e pobreza (7%) e Corrupção (4%), que no final de 2022 alcançavam dois dígitos, apresentaram queda paulatina ao longo da série histórica, ao passo que Segurança (8%) - provavelmente também sob impacto do noticiário da guerra - cresceu, ocupando agora o 4º lugar. Na sequência, Meio Ambiente e Reforma Tributária aparecem empatados com 2%. Infraestrutura e Políticas de incentivo ao crédito têm 1% ou menos de menções.

Brasileiros colocam Saúde e Emprego/Renda como áreas prioritárias para atuação do Governo Federal

O Ipespe quis saber, ainda, na hipótese de sobra no orçamento doméstico, onde os brasileiros desejam investir. A essa questão, a maioria dos entrevistados optaria por “comprar imóvel” (30%) ou “reformar casa” (20%); e “aplicar em investimentos bancários” - poupança (22%) ou outros (25%). “Fazer cursos e melhorar a educação sua e da família” aparece em 5º lugar, com 18%, alcançando 31% entre os jovens de 18 a 24 anos. Ainda na casa dos dois dígitos aparecem “Viajar” (14%, chegando a 23% entre os que têm nível de instrução superior); “Fazer ou melhorar o plano de saúde” (10%, subindo para 14% entre os que têm até escolaridade fundamental e renda até 2 SM); e “Comprar carro” (10%, chegando a 14% nos estratos de maior escolaridade e renda).
Sob possível impacto do Desenrola Brasil, programa de refinanciamento de dívidas do Governo Federal em parceria com os bancos, a perspectiva de aumento do endividamento, que vinha em crescimento desde o início do ano, recuou três pontos entre setembro e outubro (de 25% para 22%).
Inversamente, a expectativa da população de ficar menos endividada subiu de 38% para 41%. A projeção de queda do endividamento tem poucas variações entre os segmentos sociodemográficos, mas regionalmente chega aos percentuais mais altos no Nordeste (47%) e no Norte (46%), caindo para 34% no Sul.

Foto: Adobe Stock

 

 

 

 

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