Cenário otimista e realista
Texto: Redação Revista Anamaco
Um cenário mais otimista e realista norteou a mais recente edição do Termômetro Anamaco, pesquisa mensal realizada, com exclusividade, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), para a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Na última semana, a divulgação de expectativa de crescimento acima de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), como reflexo da desaceleração no número de mortes e casos de coronavírus, foi uma boa notícia para o mercado. Por outro lado, ainda há muita incerteza no campo político, gerada pela evolução dos trabalhos da CPI da Covid no Senado.
Outro ponto levantado pela pesquisa diz respeito à inflação. A alta de preços, iniciada em 2020, por conta da desorganização de algumas cadeias produtivas, logo após o início da pandemia, somou-se ao impulso de demanda gerado pelo pagamento do Auxílio Emergencial ainda no primeiro semestre e pela rápida recuperação da atividade econômica a partir de setembro.
Este ano, apesar do ritmo mais lento de recuperação, a alta dos preços das commodities e a preservação de uma taxa de câmbio ainda alta somou-se ao aumento do custo da energia elétrica em razão do nível crítico dos reservatórios.
O estudo aponta que o cenário mais provável para o pós-pandemia - compreendido como o período posterior à imunização completa de, pelo menos, 70% da população adulta - pode ser resumido como um retorno ao crescimento com restrições inflacionárias. Essas restrições, por sua vez, são o fundamento do ciclo de alta de juros, já em curso, que deverá impor mais um contrapeso ao próprio crescimento, com impactos sobre as vendas a prazo em geral, incluindo aquelas feitas no varejo de material de construção.
Para 2022, o levantamento indica que, apesar das dificuldades de projeção, o mercado espera um ritmo de crescimento mais lento, possivelmente por conta do ano eleitoral que, tradicionalmente, desacelera o ritmo de atividade.
Diante dos prós e contras econômicos e políticos, a percepção dos participantes do Termômetro com relação às vendas nos três meses encerrados em junho revelou acomodação sobre maio, com leve tendência pessimista.
Em nível nacional, as notificações de alta nos últimos três meses recuaram dois pontos percentuais: de 28% para 26% entre maio e junho. Já as assinalações de queda permaneceram praticamente estáveis: de 16% para 15% no mesmo período. Por outro lado, o sentimento de estabilidade foi apontado por 59% dos entrevistados, contra 56% no mês anterior.
No recorte regional, as percepções de estabilidade ficaram acima de 50% em todo o País, à exceção do Centro-Oeste (48%), como no mês anterior. Porém, nessa Região houve recuo das assinalações de alta, que cairam de 46% para 43%.
Esse recuo também foi registrado no Sudeste, onde o percentual de respostas positivas passou de 22% para 21%, e no Sul, de 37% para 32%. Elevações nessas respostas foram observadas no Norte, de 38% para 43%, e no Nordeste, de 21% para 23%.
Quando a pesquisa avalia os estabelecimentos segundo a principal categoria de produto comercializada, a percepção de estabilidade, no trimestre encerrado em junho, foi predominante em todos os segmentos, inclusive nos especializados em revestimentos cerâmicos que, na edição anterior, ainda mostravam predominância da percepção de alta. Em todos os demais setores, a estabilidade foi superior a 50% em junho.
Na análise das lojas de acordo com o número de empregados, houve piora nas respostas dadas pelas menores empresas. Assim, nos estabelecimentos com até quatro funcionários, as avaliações positivas quanto às vendas nos últimos três meses passaram de 23% para 14% entre maio e junho e, nas lojas com entre cinco e nove empregados, de 26% para 18%. No outro extremo, os home centers (mais de 99 empregados) mostraram-se ainda mais otimistas em junho: 68% de respostas positivas contra 52% no mês anterior.
O Termômetro Anamaco revela, em junho, maior polarização entre as respostas otimistas e pessimistas, que representaram 33% e 23%, respectivamente. Com isso, a diferença entre as percepções otimista e pessimista se reduziu de 12 p.p. para 10 p.p. entre maio e junho.
Segundo a pesquisa, no mês, em termos regionais, houve melhora nas respostas positivas no Norte (de 35% para 45%) e no Nordeste (de 26% para 37%). Aumento mais discreto foi registrado no Sudeste (de 26% para 28%) e houve ligeiro recuo no Sul (de 37% para 35%) e no Centro-Oeste (de 47% para 43%).
Na percepção sobre os últimos três meses, com relação às vendas de junho os maiores níveis de otimismo ficaram por conta dos maiores varejistas. Considerando as lojas por porte, nas empresas com até quatro empregados as assinalações de crescimento em junho foram de 23% (24% em maio). Já entre os home centers, esse indicador chegou a 59% no último mês (54% em maio). Nesta categoria, porém, há grande aumento na polarização, pois as assinalações de queda passaram de 8% para 18% dos entrevistados.
Já a percepção de estabilidade nas vendas em junho foi predominante em todos os segmentos de especialização, exceto no caso de revestimentos cerâmicos. Nessa categoria, as assinalações de alta superaram as demais, apesar de terem recuado de 56% para 42%. Em todos os setores, a percepção otimista superou a pessimista, exceto no caso do comércio especializado em produtos básicos, em que ambas as assinalações foram praticamente idênticas: 27% e 28%, respectivamente.
Futuro promissor
Diferentemente de outros indicadores da edição atual do Termômetro, as expectativas otimistas sobre as vendas nos próximos meses tiveram alta significativa em junho frente ao mês anterior: 59% contra 49% em maio. Ao mesmo tempo, as assinalações de queda e de estabilidade recuaram: 2 p.p. e 7 p.p., respectivamente.
Essa predominância ampla das expectativas de crescimento das vendas foi observada em todo o País. A pesquisa mostra que, em todas as cinco regiões, as assinalações otimistas superaram a marca de 50%. Em sentido oposto, as expectativas de queda são muito baixas e nunca superiores a 10% e as de estabilidade se situaram entre 24% (Nordeste) e 37% (Sul e Sudeste).
Considerando os varejistas segundo as principais categorias de produtos vendidos, os resultados de junho mostram que em todas as especialidades as projeções de crescimento superaram a marca de 50%.
Considerando o porte das empresas segundo o número de funcionários, os mais otimistas foram, novamente, os pontos de venda maiores. Assim, na categoria de lojas com até quatro empregados, as assinalações de alta representaram 52% das respostas. Mas, nos home centers, esse indicador chegou a 65% em junho.
Esperançosos com as ações do governo
Em junho, as expectativas positivas quanto às ações do governo nos próximos 12 meses tiveram ligeira melhora frente a maio. As respostas otimistas passaram de 53% para 55%. Da mesma forma, as pessimistas também avançaram, passando de 15% para 17%.
Em termos regionais, mantendo o padrão registrado no mês anterior, as assinalações otimistas superaram a marca de 55% em todas as regiões, exceto no Sudeste, onde passaram de 45% para 49%.
Levando em conta o porte das lojas por número de funcionários, observa-se uma homogeneidade grande. As assinalações positivas ficaram sempre entre 53% e 56% em todas as categorias.
De acordo com a avaliação da FGV-Ibre, o cenário econômico que se desenha para o segundo semestre é bem menos incerto do que vinha sendo desde o ano passado. E esse cenário se caracteriza por um misto de boas e más perspectivas. Na óptica mais positiva, os dados sobre o setor de serviços, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam a tendência de recuperação deste, que é o maior empregador setorial da economia do País.
Esse dado veio na sequência de notícias favoráveis relativas ao emprego formal. Assim, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, em maio foram criados liquidamente 280 mil novos empregos formais no Brasil. No ano, já são mais de 1,2 milhão de postos de trabalho gerados.
Esse movimento favorável deve estar contribuindo com a trajetória da avaliação dos varejistas quanto às vendas do mês corrente que têm melhorado de forma lenta e contínua desde março.
A entidade destaca que, apesar dos bons ventos, também há nuvens escuras no horizonte. A mais relevante se refere à inflação persistente, concentrada em produtos essenciais como alimentos, que reduz o espaço no orçamento das famílias para maiores gastos com material de construção. O mesmo tema inflacionário também possui uma face setorial relevante: a elevação expressiva de alguns itens, como vergalhões, produtos de PVC e material elétrico, dentre outros, um fenômeno que também deve estar tendo impacto negativo sobre a demanda no varejo setorial.
Foto: Adobe Stock