Consumidores: bons ventos os trazem
Reportagem: Ariane Guerreiro e Eraldo Soares
Texto: Simone de Oliveira
Pauta: Beth Bridi e Eraldo Soares
Historicamente reconhecido como o setor da retomada, que “puxa” a economia, sobretudo em momentos pós-crise, o segmento de material de construção não tem decepcionado e está fazendo jus a esse reconhecimento. Em um período difícil, reflexo da pandemia de coronavírus, situação que fez com que algumas indústrias paralisassem - total ou parcialmente - as operações e o comércio - por um período - interrompesse as atividades, pouco a pouco, os negócios vêm sendo retomados.
Alguns estudos indicam que as vendas estão melhorando. Desde o início do surto da doença, a Cielo divulga, semanalmente, a pesquisa “Impacto da Covid-19 no varejo brasileiro”, que mede o desempenho do comércio. O levantamento mostra que, desde maio, o varejo do setor da construção vem revertendo a tendência de queda. A pesquisa mais recente aponta que, entre os dias 28 de junho e 04 de julho, o faturamento nominal cresceu 28,3%.
No ambiente de loja, o estudo se confirma de norte a sul do País. Sandro Lima, gerente da R&S Material de Construção, localizada em Vilhena (RO), conta que, devido ao medo da recessão, gerado pela Covid-19, a empresa fez um grande planejamento, investindo “energia” em toda a loja para converter orçamentos em vendas. Nesse trabalho, intensificou o atendimento, a oferta de produtos, incluiu novidades no mix e deu atenção aos prazos de entrega. “Tudo para não dar nada de errado e, assim, mantermos nossas vendas. Surpreendentemente, tivemos resultado positivo”, comemora Lima.
O gerente revela que, em junho, a loja registrou crescimento de faturamento de 53,82% em relação a junho do ano passado. Entretanto, lembra que, naquele mês, o faturamento apresentou queda de 15% comparado a 2018. “Dessa forma, surpreendente mesmo foi o fluxo de clientes na loja. Identificamos um aumento de 55% comparado com junho de 2019”, conta.
De acordo com Lima, o desempenho no período contribuiu para o fechamento positivo do semestre, que atingiu alta de 7,5%. “Alcançamos crescimento em 2018 e 2019 e, para nossa surpresa, em 2020 também. Trabalhamos o semestre para manter o mesmo resultado de 2019, mas prontos para aceitar um resultado negativo”, revela.
Na mesma onda de ascensão, Bruno Uehara, gerente da Casa Safira Com. Mat. Constr. Ltda., associada à Rede Okinalar (SP), conta que o crescimento também aconteceu. Apesar das incertezas geradas pela pandemia, Uehara classifica como excelente o resultado de junho. “Registramos incremento de, aproximadamente, 10% em relação a junho de 2019 e quase 20% sobre maio deste ano. E, mais do que isso, conseguimos, em junho, alcançar o melhor faturamento do ano”, comemora o gerente, acrescentando que o aumento foi tanto em volume quanto em faturamento, com resultados além do esperado.
SANDRO LIMA BRUNO UEHARA
O Depósito Zona Sul (SP) também parece ter deixado para trás o ciclo de baixa nas vendas. Francisco Barbosa, proprietário da loja, explica que, depois de uma queda muito grande no início da pandemia - por volta de 40% -, as vendas foram melhorando e vêm sendo revertida em números positivos em termos percentuais. Nesse cenário, em junho houve ascensão nas vendas, dentro de uma nova realidade, embora ainda não no ritmo ideal. “Deveremos fechar junho com crescimento entre 7% e 8% em relação a maio”, antecipa.
Rodrigo Pothin, diretor Comercial da Telhanorte/Tumelero, comemora os bons resultados que a Telhanorte vem alcançando, mas não dá muitos detalhes sobre o desempenho das unidades do Grupo. Ele garante que, em junho, a companhia registrou aumento de vendas e faturamento acima de dois dígitos nas lojas físicas e três vezes o tamanho do e-commerce em relação ao mesmo mês de 2019. “A performance ficou acima das expectativas que tínhamos. No mês, também houve crescimento acima de dois dígitos em comparação a maio deste ano no e-commerce e nas lojas físicas também obtivemos uma performance bem melhor em junho”, comemora.
O diretor revela que, nas lojas Tumelero (RS), houve aumento de vendas e faturamento. Segundo ele, o e-commerce tem uma participação menor que o da Telhanorte, mas também foi incrementado. Já nas lojas físicas, o desempenho foi semelhante ao da Telhanorte.
FRANCISCO BARBOSA RODRIGO POTHIN
No Ceará, o semestre não foi dos melhores. Para tentar conter o avanço do coronavírus, o Governo do Estado adotou o lockdown, fazendo com as que lojas de material de construção cearenses ficassem fechadas por 71 dias seguidos. Apesar disso, com o retorno das atividades, os clientes voltaram com força às compras, o que fez com que o mês de junho fosse de alta nos negócios.
Antônio Mello Júnior, diretor Comercial da Normatel (CE), revela que a empresa conseguiu crescer 11,6% em vendas e 9,5% em faturamento em comparação a junho do ano passado. “O que vimos foram lojas cheias e público comprando muito produto de acabamento, como iluminação e organização, que geram uma melhor margem. O bom desempenho foi reflexo da venda represada. Estávamos com bom estoque para atender à demanda. O resultado nos surpreendeu, pois não imaginávamos uma retomada tão forte. Tínhamos calculado performar 10% abaixo de junho do ano passado pois as lojas continuam só podendo abrir entre 10h e 16h”, explica, acrescentando que o crescimento em junho não reverteu o desempenho ruim do semestre, que atingiu queda de 31%.
Ewald Fischer Neto, sócio-diretor da Construcolor (SC), também faz um balanço positivo dos negócios. Segundo ele, desde o início da pandemia, maio se mostrou o melhor mês de vendas para o Grupo. “Com incremento das lojas novas, tivemos um aumento no faturamento de 15% em relação a 2019”, comemora o executivo.
Segundo ele, junho posiciona-se em segundo lugar com um crescimento de 8,9% em relação ao ano anterior. “Em março, o faturamento ficou igual ao do mesmo período de 2019, pois o início do mês havia sido muito forte e isso nos possibilitou chegar no mesmo faturamento, apesar do cenário que tivemos”, explica.
Com alta de 11% no primeiro semestre, o executivo comenta que, diante do que vem acontecendo por conta da pandemia, a empresa está conseguindo manter um certo ritmo e melhorando as operações internas. Segundo ele, a crise forçou essas mudanças e acredita que, em médio prazo, os resultados continuarão positivos.
ANTÔNIO MELLO JÚNIOR EWALD FISCHER NETO
Novos - e antigos - hábitos das lojas e dos clientes
Em um momento em que as incertezas são grandes, muitas empresas optaram por reforçar ações internas que consideram ser seus pontos fortes, ao mesmo tempo em que tiveram de rever antigas formas de trabalhar e de atender. Na R&S, a boa performance não é fruto do acaso. Lima explica que a empresa tem uma filosofia, que funciona quase com um mantra: uma loja não deve ficar sem produtos. “Acreditamos que nosso resultado vem da certeza que o cliente tem de que na R&S ele vai encontrar o que precisa. Podemos reduzir custos, despesas e investimentos, mas nunca reduzimos o volume de compras”, garante o gerente.
Segundo ele, a oferta de produtos é a principal preocupação da loja, mas destaca outra ação, que se mostrou importante nesse cenário: não dispensar funcionários. Lima observa que muitas empresas investem, constantemente, em capacitação, mas quando aparece uma crise o primeiro a sofrer é o pessoal. “Numa loja de material de construção, o cliente demanda de muita orientação técnica para sua decisão de compra. A loja deve passar segurança para o funcionário para que ele saiba que numa crise ele não será o primeiro a ser cortado”, explica.
Na percepção de Uehara, da Casa Safira, uma das justificativas para o bom resultado é a disposição da loja de estar sempre diversificando o mix. Nesse momento de isolamento social, com muito mais pessoas adotando o home-office e ficando mais tempo em casa, a loja focou em produtos de “faça você mesmo” e passou a oferecer itens de fácil manuseio. Segundo ele, esses itens foram os de maior giro nesse período. “Pelo fato de muitas pessoas terem ficado em casa em meio a pandemia, elas aproveitaram para realizar reformas e manutenção onde elas mesmas poderiam fazer sem precisar de “mão de obra” externa”, observa o gerente.
Embora tenha usado uma receita caseira para atrair os clientes para a loja, Barbosa, do Depósito Zona Sul, avalia que o incremento nos negócios é decorrente de uma demanda reprimida e da tendência de evolução natural dos negócios. Apesar do dinheiro “extra”, oriundo do auxílio emergencial pago pelo Governo Federal, o proprietário da loja paulista não acredita que as vendas cresceram por conta dessa medida. Na percepção de Barbosa, o auxílio foi pago a pessoas muito carentes e que utilizam o dinheiro para outras necessidades.
Sem contar com essa ajuda externa, ele entende que o que incentivou as vendas foi o desenvolvimento de uma campanha, que teve como mote “Venha comemorar as festas juninas com o Depósito Zona Sul”. Batizada de “Cestou”, a ação sorteou cestas com produtos típicos de festas juninas, nos finais de semana de junho, aos clientes que fizeram compras na loja. “O consumidor não vem comprar pela cesta, mas sente-se agradecido e valorizado quando recebe um prêmio, independentemente do valor”, destaca o proprietário, acrescentando que uma nova campanha deverá ser lançada em julho. “A intenção é chamar a atenção dos clientes”, completa.
O executivo considera que a mídia digital, hoje, é fundamental para o sucesso dos negócios. Dessa forma, além de iniciativas no ponto de venda, a empresa vem realizando ações nas redes sociais.
Na percepção de Pothin, o que permitiu os bons resultados à Telhanorte foi a aceleração de várias iniciativas. Uma delas, foi a disponibilização de um caminhão itinerante que, equipado com produtos emergenciais, foi aos condomínios para permitir que os clientes pudessem realizar obras e manutenções sem sair de casa.
Em outras frentes, a empresa fez uma cesta com mais de 400 itens para pequenos reparos e manutenção a preço de custo, e ofereceu descontos de 20% para profissionais, como policiais, bombeiros e médicos e profissionais da saúde, que estão na linha de frente na luta contra a Covid-19. Segundo o diretor, o mesmo desconto que é dado na loja física para os profissionais e frete grátis são disponibilizados no e-commerce.
Numa loja de material de construção, o cliente demanda de muita orientação técnica para sua decisão de compra. A loja deve passar segurança para o funcionário para que ele saiba que numa crise ele não será o primeiro a ser cortado
As vendas pela internet, inclusive, foram reforçadas com a inclusão de mais de dois mil itens. “O e-commerce vem sendo trabalhado categoria por categoria, melhorando a experiência dos nossos clientes, disponibilizando alguns serviços adicionais, assistente virtual, projetos virtuais, para ajudá-los a projetar uma sala, por exemplo”, explica.
Na avaliação do diretor, quem ainda tinha resistência ao e-commerce deve aderir, porque, segundo ele, é uma tendência que não deve voltar atrás. “Talvez não seja no mesmo ritmo, mas para algumas compras pontuais, itens que ele já tenha definido e conheça, o uso deve continuar”, completa.
Pothin explica que o televendas na Tumelero surpreendeu. Isso porque a loja ainda não oferecia esse serviço e os resultados alcançados foram semelhantes ao de uma loja física média.
Na Normatel, a aposta foi na criação de um setor especifico para cuidar das vendas on-line e do delivery (WhatsApp, telefone etc.) e de um comitê de crise para tratar dos assuntos ligados à manutenção da saúde do caixa e demais ações para mitigar os efeitos perversos da crise. “Tiramos esse tempo “livre” para rever o mix e fazer um line-review profundo e liberar espaço para inovações”, revela o diretor.
O executivo da Construcolor comenta que a empresa, no momento desafiador, reinventou-se com mídias sociais, reposicionou o site, ofereceu melhor resposta no atendimento via WhatsApp e também fez um ajuste grande para efetuar entregas com maior agilidade e sem custo ao cliente.
O que vem por aí
De acordo com o Índice de Confiança do Comércio (ICOM), da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança do comércio subiu 17,0 pontos em junho e, embora a recuperação seja de 60% do que foi perdido entre março e abril, aponta para um empresário menos pessimista com o futuro.
As ações traçadas pelos revendedores mostram que a pesquisa está na direção certa e que, embora ainda seja imprevisível como será o “novo” normal, as lojas mantêm os investimentos, mas todas com os “pés no chão”.
Lima, da R&S, diz que, para o segundo semestre, está mantida a estratégia e a expectativa é atingir o mesmo faturamento de 2019, porém, investindo esforços para ter o mesmo sucesso do primeiro semestre.
Para facilitar a vida dos clientes, além de investir no mix, a decisão na Casa Safira é reforçar, cada vez mais, os pedidos via WhatsApp, para que o cliente possa fazer pedido sem sair de casa e com uma maior rapidez de entrega, pois cada vez mais os clientes têm a necessidade de uma resposta rápida e uma entrega mais ágil.
Consciente de que junho foi um mês atípico, Uehara garante que a empresa tem os “pés no chão”. Ele lembra que as reformas, que geralmente são feitas no final do ano, foram adiantadas. Além disso, outros setores estão autorizados a abrir, o que acaba aumentando a disputa pelo “bolso” do cliente.
Dessa forma, acredita que poderá haver diminuição nas vendas nos próximos meses. A estratégia, então, continuará sendo focar em comodidades para os clientes e usar as mídias sociais, tanto para divulgação da loja e para ações de marketing. A tendência de elevação propicia uma expectativa de negócios crescentes nos próximos meses.
Com uma perspectiva um pouco mais otimista para o restante do ano está o Depósito Zona Sul. O proprietário diz que esperava a retomada em junho e diz que é preciso ter autoconfiança para passar para os funcionários da empresa e que há expectativa boa para julho também. “Dentro das circunstâncias, estamos otimistas. Não é exagero. É otimismo contido dentro de uma realidade”, reforça.
O executivo da Telhanorte/Tumelero explica que o Grupo está se adaptando e tentando entender, pontualmente, o crescimento, que ficou acima das expectativas. Ele analisa que, nos próximos dois meses, o crescimento deve permanecer. “Há risco de impacto de desemprego e falta de crédito no mercado mais adiante, por isso, ainda temos um pouco de cautela em relação ao restante do ano”, justifica.
Pothin revela que o Grupo está lançando o projeto “Ajuda ao Vivo”, que consiste em uma prestação de serviços para os clientes. Com esse serviço, se os consumidores quiserem fazer um trabalho por conta própria para não levar pessoas para dentro do seu lar, comprando alguns produtos nas lojas da Rede, a empresa oferece alguns serviços de ajuda por profissionais, por exemplo, instalação de prateleiras, reparos em casa, em que o profissional ajuda por meio de vídeo chamada. “Adotamos outras medidas, como frete expresso e venda por WhatsApp. Tudo para o cliente não precisar sair de casa se não quiser”, observa o diretor.
Sem dar muitos detalhes, ele diz que, em breve, a empresa anunciará novos serviços e antecipa que o Grupo tem trabalhado do ponto de vista de aumento do sortimento e em novas categorias que o cliente não encontrava na Telhanorte. “Esse é um caminho fundamental, assim como, cada vez mais, prover a jornada completa, incluindo bom preço, atendimento, entrega dos produtos na data, opção de receber mais rápido e, obviamente, cumprir com o que ele precisa”, diz o executivo.
A confiança do comércio subiu 17,0 pontos em junho e, embora a recuperação seja de 60% do que foi perdido entre março e abril, aponta para um empresário menos pessimista com o futuro
Em tom otimista, o diretor da loja cearense conta que os planos traçados devem ser seguidos. Entre os projetos, constam a inauguração de mais uma unidade no final deste mês de julho e outra no começo de 2021. “A crise é passageira e o governo está com a política econômica correta para o País. Com a taxa Selic nesse patamar, é questão de tempo para a economia aquecer com força total. Não temos dúvidas quanto a isso. Vai se dar bem quem se preparar para surfar melhor essa onda”, acredita.
Fischer Neto revela que a Construcolor tem um grande projeto de crescimento e acredita que, em 2021, o Grupo poderá retomar, com força, os investimentos na expansão em Santa Catarina. Este ano, a Rede, que abriu as portas de uma unidade em fevereiro e outra em junho, planeja mais duas inaugurações neste segundo semestre. “Estamos há 35 anos no mercado e enfrentar desafios vai preparando, ainda mais, a empresa para um futuro de solidez e crescimento”, finaliza.
Cadeia em expansão
Se o movimento crescente é uma realidade no varejo, dois outros elos da cadeia de material de construção - atacado e indústria - também respiram aliviados. Importantes para o abastecimento das lojas menores - conhecidas como de vizinhança -, os atacadistas e distribuidores entraram no rol de atividades essenciais e continuaram operando desde o início da pandemia. De acordo com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), essas empresas atendem a cerca de um milhão de pontos de venda - de diversos setores - em todo o País.
Os bons ventos que sopraram a favor do setor também foram sentidos pelo Sampaio Distribuidor (CE). Ramon Alexandre Bezerra, gerente da empresa, conta que o mês de junho foi excelente e a companhia registrou, aproximadamente, 300% de crescimento em comparação ao mesmo período do ano passado.
Segundo Bezerra, o auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal e as medidas de confinamento contribuíram para o resultado. “O auxílio ajudou a injetar dinheiro na economia, especialmente, em um dos nossos principais públicos alvo, que são os depósitos de periferia. As pessoas que não puderam ir a shoppings ou comprar eletrodomésticos, passaram muito tempo em casa e usaram o recurso para fazer reparos, recuperar a casa, o que nos favoreceu”, afirma.
O gerente lembra que os clientes do Sampaio estavam desabastecidos porque, no início da pandemia, havia muita incerteza que levou à queda das compras. “Faturamos entre 15% e 20% do que faríamos sem a crise”, conta Bezerra. Passado o susto inicial, depois de cerca de 45 dias desde o início do surto, os negócios se reaqueceram de forma bastante significativa de abril a junho, quando empresa duplicou as vendas na média do período. Com isso, recuperou as perdas iniciais, em um cenário que foi ficando mais claro com o tempo e quando os clientes passaram a ter necessidade de se reabastecerem. A empresa faturou duas vezes mais em junho de 2020 sobre junho de 2019.
RAMON ALEXANDRE BEZERRA
O auxílio emergencial também é visto como fundamental para a alta nos negócios da Comercial Maia. Na avaliação de Victor Maia, diretor Executivo da empresa, é como se não houvesse desemprego, pois todos têm uma renda, que não é muito dinheiro, mas ajuda e movimenta a economia. “Além disso, 40% desses recursos voltam para o governo em forma de tributos", destaca.
Também com sede no Ceará, o atacadista/distribuidor viu os negócios crescerem de forma vertiginosa. O executivo revela que, em junho, alcançou incremento de 101,9% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2019.
Além do dinheiro do auxílio, na sua avaliação, o “boom” nos negócios foi resultado das lojas fechadas e atendendo via delivery entre os dias 20 de março e 31 de maio. “Os estoques foram baixando e os varejistas foram comprando um pouco das distribuidoras e das indústrias”, justifica.
Maia lembra, ainda, que, em abril, houve uma onda de reparos, porque as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa seja pelo trabalho em home-office ou pelo isolamento social. Dessa forma, na sua opinião, beneficiou-se quem abastece rápido os pontos de venda, que são os distribuidores. “As indústrias também estiveram fechadas e ocorreu muita ruptura, e ainda ocorre, o que foi um problema sério, que tenho receio de se tornar crônico, pois em alguns segmentos, como louças, para voltar a produção é complicado”, observa o executivo.
O diretor da Comercial Maia acreditava numa “ressaca”, devido ao fechamento das lojas e já percebia um crescimento mesmo em maio, quando as vendas aumentaram em 30%. Ele reconhece que, em princípio, acreditava que a ressaca duraria em torno de duas semanas, mas comenta que o bom movimento segue também em julho.
Com isso, a empresa terceirizou o transporte e aumentou a mão de obra para dar vazão às entregas e manter o nível de serviços, uma vez que tem o compromisso de entregar em até 24 horas os pedidos destinados a Fortaleza (CE) e Região Metropolitana.
Na King Ouro (RJ), o crescimento também foi robusto. Andrews Pereira da Silva, gestor de Inteligência de Mercado da empresa, revela que, em junho, a empresa faturou R$ 32 milhões, o que representa uma elevação de 57% em relação ao mesmo mês de 2019. “Não esperávamos esse desempenho, que foi alcançado graças à decisão de manter o foco no negócio e na resolução de gargalos logísticos”, justifica.
VICTOR MAIA
Apesar dos índices bastante elevados, Bezerra acredita que é preciso ter “os pés no chão”, avaliar as decisões de investimentos, controlar o volume de compra, porque ainda não há certeza de que o comércio não será fechado novamente. Além disso, ele observa que as pessoas aprenderam a trabalhar com menos recursos e racionalizar os gastos.
Bezerra afirma que a empresa chegou a perder vendas de clientes que optaram por comprar direto da indústria. Nesse novo cenário, alguns estão voltando diante da possibilidade de fazer pedidos menores do que aqueles solicitados pelos fabricantes. “Hoje, eles compram somente o necessário, ninguém quer imobilizar dinheiro em pedidos grandes”, conta. Segundo ele, apesar de mais vendas, o ticket médio diminuiu.
O gerente da Sampaio conta que nem a empresa nem os fabricantes esperavam volume de negócios tão grande, o que já se reflete em rupturas. “Uma compra de louças que fizemos para 30 a 40 dias, durou 45 minutos”, destaca.
Ainda assim, Bezerra está bastante otimista, considerando a continuidade do auxílio emergencial e o aprendizado que todos tiveram com a digitalização dos negócios e das transações, por meio de redes sociais e serviços de entrega em domicílio. “Acredito que o ano será positivo. Não no patamar atual, os clientes estão comprando com mais segurança, nem mais, nem menos, mas estamos bem animados", comenta Bezerra.
O sentimento é compartilhado pelo diretor da Comercial Maia, que acredita em bons resultados no ano. “A meta inicial era de 20% de crescimento e já estamos em 30%, incluindo os meses de março e abril. O nosso novo Centro de Distribuição (CD) também vem ajudando a manter o nível dos serviços”, antecipa.
No sentido contrário, o executivo da King Ouro acredita que haverá uma desaceleração a partir da reabertura da economia e opina que o desafio é manter os mesmos níveis de crescimento alcançados até agora.
Ritmo de recuperação
Dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), que compõem o Índice Abramat, mostram que, em maio, a indústria do setor faturou 10,6% a mais do que em abril. Apesar dos comparativos anuais e do acumulado do ano ainda apontarem para queda, o estudo sugere que as previsões acenam para uma retração dos efeitos da pandemia a partir de maio.
Essa retomada vem sendo sentida em algumas indústrias do segmento. Na Cozimax, por exemplo, após um período de queda e insegurança em março e abril, o fabricante encerrou maio com resultados considerados excelentes, superando em 20% o mesmo período do ano passado. Em junho, a performance foi ainda melhor, com crescimento de 60% em relação a maio. Com isso, a companhia encerrou o semestre com resultado 15% acima do mesmo período de 2019. “Não esperávamos esse resultado. Sempre fizemos nosso melhor, mas sem saber o que esperar nesse período, pois é uma situação sem precedentes em nossa geração. A cada semana o cenário muda e precisamos estar sempre atentos para acompanhar esse movimento, explica Andreia Lauer, gerente Comercial da empresa.
ANDREIA LAUER
Na sua percepção, essa performance é reflexo da decisão da organização de nunca parar de investir em melhorias de processo e qualidade, na busca por inovação, sempre tentando entender a necessidade de cada cliente.
Também na Ilumi, junho surpreendeu. Paulo Sérgio Rodrigues, diretor Comercial da empresa, revela que o resultado do mês foi muito bom e bastante superior às metas traçadas no começo do ano. Segundo ele, desde a segunda quinzena de abril, a produção está a todo vapor. “No início da pandemia, ficamos bastante preocupados e apreensivos, depois detectamos algumas oportunidades e fomos para cima. Está dando muito certo”, comemora.
O executivo conta que, nos meses de abril e junho, as vendas foram muito boas e os primeiros dias de julho já apontam para um resultado forte também. Na sua percepção, a performance é reflexo do trabalho que vem sendo feito há 23 anos.
Segundo ele, durante todo esse período, o fabricante construiu parcerias fortes e consistentes com os clientes, além de encarar o marketing como parte importante do negócio, aliado a um mix de produtos bastante completo e um pacote de serviços que diferencia a empresa. “Somos fiéis à nossa missão e visão de negócios, sem abrir mão dos nossos valores”, garante.
Segundo a gerente da Cozimax, junho foi um dos melhores meses da história da companhia e colocou a produção de volta ao ritmo acelerado, com contratações e aumento de equipes. “Com o repentino e inesperado aumento de vendas, naturalmente há o desafio de manter a produção e as entregas em dia. Para isso, aumentamos nosso quadro de colaboradores, estamos trabalhando com horários estendidos e turnos noturnos. Além disso, trouxemos para dentro da fábrica a produção de bancadas e nichos em porcelanatos e aumentamos a frota para maior capacidade de entrega”, conta a executiva.
Mesma necessidade foi sentida na Ilumi. Rodrigues diz que, mesmo diante da pandemia, a companhia não precisou fazer demissões. Muito pelo contrário. A indústria está reforçando em 10% o quadro de funcionários.
PAULO SÉRGIO RODRIGUES
A gerente lembra que, durante o início da quarentena e a difícil fase de adaptação, a Cozimax continuou pensando no cliente e tentando oferecer soluções para o lojista. No momento de distanciamento social, a empresa apresentou, de forma virtual, os lançamentos 2020 e garante que respeitou o tempo e o espaço de cada um. “O lojista reconhece este esforço e a resposta vem pelos resultados”, reforça.
Andreia lembra que o período ainda é de incertezas, que a empresa tem as metas traçadas para o restante do ano, mas que não é possível saber como o mercado vai reagir, pois o cenário está mudando o tempo todo e é impossível fazer qualquer previsão.
Rodrigues revela que o segredo do sucesso passa por algumas vertentes. O executivo destaca que, internamente, a Ilumi tem tomado todas as providências para zelar pela saúde física e mental da equipe, evitando baixas, que poderiam impactar no desempenho.
Paralelamente, procura estar mais próxima aos representantes e clientes, através de reuniões constantes em grupo e individuais. “Nossa equipe de vendas, tem recebido um feedback muito positivo dos representantes comerciais e dos clientes. Segundo estes, nosso posicionamento tem nos diferenciado neste momento triste que estamos vivendo. Isto tem se traduzido nos números surpreendentes que temos alcançado”, comenta o diretor da Ilumi.
Depois de resultados positivos inesperados, para os próximos meses, as expectativas são boas. Rodrigues observa que a economia está dando sinais de recuperação, está entrando muito dinheiro no mercado e as pessoas estão olhando mais para sua moradia ou adequando-a para o trabalho em home office. “Estamos trabalhando com 100% da capacidade e buscando alternativas para incrementar a produtividade. De julho em diante, incrementaremos nosso volume produzido em cerca de 20%”, ressalta o executivo.
Fotos: Adobe Stock e Divulgação