Crise climática no Sul impacta o nível de endividamento das famílias no Brasil
Texto: Redação Revista Anamaco
De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer - cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa - permaneceu em 78,8% em junho, semelhante ao desempenho de maio e acima do referente a junho do ano passado (78,5%).
O resultado revela que, após três meses de alta do endividamento, as famílias estabilizaram sua demanda por crédito, receosas do incremento nas dívidas atrasadas. Ainda que o endividamento não tenha apresentado oscilação, houve melhora do perfil do crédito. O percentual de pessoas que se consideram “muito endividadas” foi reduzido em 0,6 ponto percentual, alcançando 17,2%. Enquanto o daquelas que se sentem “pouco endividadas” aumentou para 33,7%.
Já o percentual de famílias com dívidas em atraso aumentou para 28,8%, permanecendo abaixo do percentual do mesmo mês do ano passado (29,2%). O percentual de famílias que não terão condições de pagar dívidas, por sua vez, manteve, em junho, o nível de maio deste ano e de junho do ano passado, 12,0%.
O estudo mostra que o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias teve um incremento de 0,3 p.p. em relação ao mês anterior, chegando a 47,6% do total de endividados em junho deste ano, o maior percentual de 2024, revelando que os atrasos estão perdurando por mais tempo.
Apesar do maior nível de inadimplência, diminuiu o percentual dos consumidores que possuem mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas, uma queda de 0,4 p.p. na comparação mensal, atingindo 20,4%.
Para conseguir ter melhor controle financeiro, as famílias contam com prazos mais longos para pagamento das suas contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano avançou para 32,8%, o maior nível desde abril de 2022.
Ao analisar os dados desagregados por renda, pode-se perceber que a população de menor renda (até cinco salários mínimos) aumentou o seu endividamento, tanto em relação ao mês anterior quanto a 2023, precisando recorrer a esses recursos para manter seu padrão de consumo.
Enquanto a classe mais alta (entre cinco SM e acima de 10 SM) mostrou redução de suas contas, pois possuem recursos próprios suficientes para a aquisição de bens essenciais. A classe de maior renda (acima de 10 SM) teve aumento das dívidas em atraso, com a população de baixa renda apresentando um percentual de 36,5%, maior do que no mês anterior.
Também houve alta do volume das famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso na maioria das faixas de renda, com o grupo de maior renda (acima de 10 SM) sendo a exceção e apresentando estabilidade.
A pesquisa revela que, nas modalidades de crédito, o cartão de crédito continuou tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 86,4% do total de devedores; contudo, houve retração de 0,6 p.p. na comparação com o mesmo mês do ano passado e de 0,5 p.p. diante do mês anterior. Já carnês e cheque especial continuaram perdendo representatividade na carteira de crédito dos consumidores em relação ao ano passado (-0,4 p.p. em ambos os casos). Enquanto o financiamento imobiliário apresentou o maior crescimento anual (+1,5 p.p.), resultado do mercado de crédito com juros mais acessíveis. Esse foi o maior percentual de utilização (8,9%) desde fevereiro de 2022.
Outro dado apurado pelo levantamento mostra que, com as enchentes enfrentadas pelo Rio Grande do Sul, as famílias precisaram se endividar mais para ajustar seus orçamentos, justificando o aumento do endividamento. No entanto, destaca-se que a inadimplência teve redução de 0,2 p.p. no mês, de forma que, mesmo com a tragédia, as famílias continuaram com capacidade de honrar os seus compromissos. Esse efeito indica que as medidas de apoio ao Estado começaram a surtir efeito na prática, dando maior alívio ao orçamento das famílias do Rio Grande do Sul.
Para verificar o impacto do Estado no resto do Brasil, foi realizado um estudo para ter os resultados da pesquisa sem o Rio Grande do Sul. Nesse caso, o endividamento do Brasil teria recuado para 78,4%, representando que houve recuo no endividamento brasileiro. Porém, a maior necessidade, vista no Rio Grande do Sul, pelo crédito fez com que o endividamento se mantivesse em 78,8% em junho.
Em relação à inadimplência, não houve alteração relevante do indicador de famílias que não terão condições de pagar suas contas. No entanto, o percentual de famílias com dívidas em atraso teria sido de 28,7%, retirando o resultado do Rio Grande do Sul, com uma redução de 0,1 ponto percentual, mostrando que metade do aumento de 0,2 p.p., apresentado neste mês, foi puxado pelo Estado.