Vacinação em curso e volta do Auxílio Emergencial reacendem a esperança do varejo
Texto: Redação Revista Anamaco
Considerado como atividade essencial desde o início da pandemia de coronavírus, o varejo de material de construção, em março, foi surpreendido, em algumas localidades do País, com restrições ao seu funcionamento. Parar não parou, mas o atendimento foi limitado, em alguns Estados e municípios ao drive-thru e ao delivery.
E foi naquele momento de incerteza que a pesquisa Termômetro da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), feita em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), foi realizada.
De acordo com a pesquisa, o ritmo de recuperação da indústria de material de construção e do varejo já vinha perdendo fôlego desde o final do ano passado. Com isso, a restrição ao varejo - que, no Estado de São Paulo, durou de 15 de março até 11 de abril - impactou o setor em um momento desfavorável, em que a retomada sazonal que se inicia, tipicamente, em março já se esboçava, mas com timidez.
Trimestre menos positivo
Segundo o levantamento, o impacto negativo do acirramento da pandemia e das restrições ao varejo influenciou as respostas dos lojistas relativas ao desempenho dos últimos três meses, muito embora as restrições tenham sido aplicadas de forma mais rigorosa somente a partir de 15 de março.
Em nível nacional, as notificações de alta nos últimos três meses caíram 20 pontos percentuais, passando de 44% para 24% entre fevereiro e março. Em paralelo, as assinalações de queda no trimestre encerrado no momento da pesquisa passaram de 27% para 32%, enquanto o sentimento de estabilidade foi apontado por 44% dos entrevistados.
No recorte regional, a estabilidade foi a mais destacada em todo o Brasil. Também chama a atenção o percentual de respostas que sugerem queda, que chegou a quase 40% no Nordeste, a Região do País com o maior nível de pessimismo. No extremo oposto, o Sul foi o local que apresentou o maior percentual de assinalações de crescimento no trimestre encerrado em março (31%). No Nordeste, a queda das indicações de crescimento nas vendas chegou a 44 p.p., o maior recuo em termos regionais.
Considerando os estabelecimentos segundo a principal categoria de produto comercializada, os números da pesquisa de março revelaram resultados variados. A tônica continua sendo a percepção de estabilidade no trimestre encerrado em março. Mas, no caso de lojas especializadas em produtos básicos e material elétrico, os percentuais relativos a essa percepção ficaram em torno de 50%. Tanto no caso de produtos básicos quanto de material de pintura, as assinalações de queda superaram as de crescimento em 12 e 17 pontos percentuais, respectivamente. O mesmo perfil, ainda que menos pronunciado, foi registrado em material hidráulico.
Confiança menor entre fevereiro e março
Em termos dessazonalizados, o volume de vendas do varejo foi desacelerando a partir de setembro do ano passado. Desde aquele mês até fevereiro, a queda nesse indicador foi de 6,5%. No mesmo período, a produção industrial de insumos típicos registrou alta de 0,6%, também em termos dessazonalizados. Segundo o estudo, em fevereiro, o volume de vendas no comércio voltou a subir, reduzindo a queda acumulada desde setembro a 4,7%. O Termômetro aponta que, o agravamento das restrições ao comércio interrompeu o processo sazonal de aceleração das vendas que, historicamente, começa em março.
Dessa forma, em nível nacional, o otimismo, em relação às vendas do mês, recuou de 45% para 28% entre fevereiro e março. Com esse resultado, as assinalações de queda excederam as de alta em cinco pontos percentuais, caracterizando forte reversão com relação ao mês anterior, quando o percentual de crescimento foi maior do que o de queda em 15 p.p.
Na análise por Região, o estudo revela que houve redução do otimismo em todo o País. O maior recuo foi registrado no Nordeste: 40 pontos percentuais, enquanto, na outra ponta, o Sudeste registrou o menor recuo (6 p.p.), O menor percentual de otimismo foi verificado no Centro-Oeste (22%).
Considerando a diferença entre as assinalações otimista e pessimista, em três regiões a percepção de queda superou a de alta nas vendas de março: Nordeste (17 p.p.), Sudeste e Centro-Oeste (6 p.p. em cada região).
Em março, os maiores percentuais de queda ficaram por conta dos pequenos varejistas: 42% das respostas dadas pelas lojas com até quatro funcionários. Na avaliação das entidades, esse resultado deixa explícita as dificuldades das lojas de menor porte para se adaptarem às práticas de vendas remotas. Ao mesmo tempo, as assinalações de alta observadas nos grandes estabelecimentos sugerem que a demanda foi desviada do pequeno para o grande varejo de material de construção.
Na análise por tipo de produto comercializado, os revendedores especializados em revestimento cerâmico e material de pintura foram os que apontaram crescimento de vendas no mês acima das assinalações de queda. Essa diferença positiva foi de 9 p.p. e 5 p.p., respectivamente.
Expectativas otimistas predominam
O Termômetro revela que a piora na percepção dos varejistas com relação ao passado recente e ao mês de março também afetou as expectativas de vendas para os próximos três meses, ainda que com menor intensidade. Entre fevereiro e março, a perspectiva otimista retraiu de 54% para 39% em nível nacional. Essa queda de 15 pontos percentuais foi menor do que a registrada com relação aos últimos três meses (20 p.p.) e ao mês de março (17 p.p.).
Outro indicador de interesse é a diferença entre a parcela de assinalações de alta e de baixa quanto às vendas futuras. Em fevereiro, essa diferença era de 35 p.p., tendo passado a 21 p.p. em março, o que ainda demonstra o predomínio de expectativas otimistas.
Em termos locais, as expectativas de crescimento futuro das vendas registraram forte alta na Região Norte, possivelmente por conta de um sentimento de que a grave crise sanitária causada pela Covid-19 já superou seu pior momento na Região.
Em menor grau, esse predomínio das expectativas otimistas também foi registrado no Centro-Oeste. Nessas regiões, as assinalações de alta superaram as de baixa em 57 p.p. e 34 p.p., respectivamente. Nas demais regiões, as expectativas de queda também foram superadas pelas de alta, ainda que em menor dimensão. Ao mesmo tempo, as assinalações pessimistas ficaram estáveis entre fevereiro e março em nível nacional. Esse indicador avançou apenas no Nordeste e, ainda assim, de forma muito discreta (três pontos percentuais).
Considerando o comércio segundo as principais categorias de produtos vendidos nota-se que, em março, os mais otimistas quanto ao futuro eram novamente as lojas especializadas em revestimentos cerâmicos (45%). No caso das lojas de produtos básicos, mais afetadas pelas restrições impostas no mês, o nível de otimismo quanto às vendas futuras teve queda expressiva, passando de 18 p.p., tendo sido inferior às assinalações de estabilidade (40% contra 46%, respectivamente).
Em menor grau, o mesmo ocorreu em material elétrico, segmento no qual as expectativas de alta futura nas vendas passaram de 45% para 39% entre fevereiro e março. No extremo oposto, o varejo especializado em produtos cerâmicos tornou-se mais otimista no mesmo período; o percentual de assinalações de crescimento quanto às vendas futuras chegou a 45% em março contra 31% no mês anterior.
Esperança renovada
A pesquisa apurou, ainda, que, em março, as expectativas otimistas quanto às ações do governo nos próximos 12 meses voltaram a subir depois de três meses sucessivos de queda, chegando a 49% das respostas do tracking. Esse é o nível mais elevado desde janeiro e ficou 12 p.p. acima do nível de fevereiro. Em sentido contrário, as assinalações pessimistas caíram 10 p.p. no mesmo período, passando de 34% para 24%.
Em termos regionais, as assinalações otimistas superaram a marca de 50% no Centro-Oeste, Norte e Sul. No Sudeste e Nordeste, esse indicador foi de 43% e 48%, respectivamente.
Essa melhora geral na percepção sobre as ações futuras do governo pode ter sido influenciada pelo avanço, ainda que em ritmo lento, da vacinação. E, muito embora as três esferas da Federação não estejam agindo de forma sincronizada, esse fato não impediu a melhora nessa percepção. A volta do pagamento do auxílio emergencial, ainda que em menor valor e com cobertura menos ampla, também é um fator que pode ter contribuído com a alta do indicador.
A exemplo de outras economias do mundo, do Chile à Índia e da Argentina ao Reino Unido, o Brasil vem assistindo a um movimento pendular de fechamento e reabertura das atividades econômicas em razão do ritmo lento de vacinação. No outro extremo, alguns estados norteamericanos vêm reabrindo a economia de forma mais linear graças a uma cobertura já mais ampla da imunização. Ainda assim, em outras tantas regiões dos EUA, o número de casos de Covid-19 tem voltado a subir. Essa alternância se refletiu com clareza na série temporal de resultados do Termômetro Anamaco. Nos três recortes temporais (últimos três meses, mês corrente e próximo trimestre) as avaliações otimistas dos varejistas de materiais sofreram forte queda.
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