Endividamento estável e inadimplência avança
Texto: Redação Revista Anamaco
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) se manteve estável em setembro, representando 77,4% das famílias no País.
Com isso, o volume de endividados está no menor nível desde junho de 2022. No ano, a proporção de endividados caiu 2,0 p.p. Do total de pessoas com dívidas, 17,7% se consideram “muito endividadas”, percentual que apontava tendência de queda desde junho, mas cresceu 0,2 p.p. no mês e no ano.
O estudo revela que, embora o endividamento mostre tendência de queda, os indicadores de inadimplência, por outro lado, seguem acelerando. O volume de consumidores com dívidas atrasadas (30,2%) chegou à maior proporção desde novembro de 2022, com três em cada dez pessoas endividadas apontando algum compromisso atrasado.
Já o número de pessoas que afirmaram não ter condições de pagar dívidas de meses anteriores é o maior da série histórica,13% do total de consumidores no Brasil. Na análise da entidade, a queda da inflação e o mercado de trabalho formal ainda absorvendo pessoas de menor instrução vêm favorecendo os orçamentos domésticos, fazendo com que menos pessoas recorram ao crédito. No entanto, com juros de mercado elevados e maior quantidade de dívidas a vencer, as famílias encontram dificuldade de quitar os compromisso em aberto há mais tempo, com o avanço das despesas com juros. Mesmo no contexto macroeconômico mais favorável, o volume de consumidores com dívidas atrasadas há mais de 90 dias alcançou 47,8% do total de inadimplentes, a maior proporção desde o início da pandemia em março de 2020. Além disso, o comprometimento da renda com dívidas voltou a crescer nos últimos três meses, atingindo a média de 30,1% do rendimento famílias, o maior percentual desde janeiro deste ano.
O volume de endividados aponta aumento no mês e redução no ano entre os consumidores de renda baixa, o público priorizado na faixa 1 do Desenrola, que começa a ter os CPFs desnegativados a partir deste mês de outubro.
Nas faixas de renda média (3-5 SM e 5-10SM), o endividamento teve comportamento semelhante no mês e no ano, com reduções mais intensas nas duas bases de comparação. Em contrapartida, a proporção de consumidores com dívidas atrasadas aponta tendência de alta nas três primeiras faixas de renda, dentre as quatro pesquisadas.
A proporção dos que afirmam não ter condições de pagar dívidas atrasadas de meses anteriores avançou no ano nos quatro grupos, com destaque para os 18,3% de consumidores na baixa renda afirmando que não terão como quitar as dívidas mais antigas, o maior volume da série histórica.
Nas modalidades de dívida, o cartão de crédito voltou a ganhar participação no volume de endividados em setembro, relativamente ao mesmo mês do ano passado, representando 86,7% do total de devedores. O crédito consignado e as dívidas fora do sistema financeiro tradicional também avançaram no ano (5,2% e 2,6%, respectivamente), ao passo que as demais modalidades perderam representatividade na carteira de crédito dos consumidores.
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