Greve chega ao 6º dia e os problemas se avolumam
16h55 - Pouca coisa muda neste sábado de greve - O Brasil vive um sábado com cara de feriado nacional. Poucos ônibus nas ruas, praticamente 100% dos postos de gasolina fechados por falta de combustível, desabastecimento de alimentos começa a se intensificar, hospitais cancelam cirurgias e exames que não sejam de emergência e farmácias já informam que alguns medicamentos podem faltar. No setor de material de construção, indústria e comércio ainda não contabilizaram e nem fazem estimativas dos prejuízos, mas o desabastecimento e a dificuldade para realizar as entregas são inevitáveis.
Nas redes sociais, principalmente lojistas manifestam seu apoio às reivindicações dos caminhoneiros. Mas também usam desta mídia para comunicar problemas e cancelar eventos. A grande incógnita é: como será a segunda-feira dos brasileiros?
Tambasa: caminhões parados Enquete espelha a opinião dos brasileiros Apoio e explicações nas redes sociais
Pelo que pôde ser levantado, em off, o setor de material de construção apóia todas as reivindicações, porque também se sente impactado pelo alto custo dos fretes. Mas aos poucos, assim como toda sociedade, os empresários acham que uma trégua temporária ou a retomada do diálogo seriam a melhor solução para se evitar um caos ainda maior, que possa prejudicar inclusive vidas humanas.
Hoje, às 9 horas, o Gabinete de Governo para enfrentamento da Crise esteve reunido no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Temer, e ao final, em entrevista coletiva rápida, o ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo da Presidência da República, informou que o governo começará a aplicar multa de R$ 100 mil por hora parada a quem descumprir o "acordo" para desbloqueio das rodovias. Disse, ainda, que a Polícia Federal já tem inquérios abertos para investigar a origem do movimento e confirmou que já existem pedidos de prisão encaminhados a Justiça. Mas nao informou quantos pedidos, quem seriam os investigados e nem a qual instância da Justiça que os pedidos foram encaminhados.
Imagem compartilhada pela sociedade Apoio explícito ao movimento
Diante do impasse que tomou conta das negociações entre o governo e os caminhoneiros, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento ontem. Segundo ele, antes da greve “estourar”, ainda no domingo, o governo começou a tomar providências para atender às demandas da categoria, que luta pela redução no preço do óleo diesel. O presidente provavelmente reforçou muito este ponto pois vem sendo muito criticado por ter menosprezado os movimentos que indicavam que a categoria dos caminhoneiros partiria para uma paralisação de grande porte.
Segundo ele, o Governo fechou um acordo com as lideranças nacionais representativas dos caminhoneiros, que pediram, entre outras coisas, redução e estabilidade no preço do diesel. Diante disso, Temer disse que a União vai ressarcir a Petrobras para garantir a redução de 10% no preço final do produto. “Nós acordamos estabilidade no preço a cada 30 dias, garantindo previsibilidade nos custos dos caminhoneiros”, declarou.
Na percepção do presidente, o governo atendeu às reivindicações prioritárias e os caminhoneiros se comprometeram a encerrar a paralisação. Temer acredita que a continuidade da greve dá-se por conta de uma minoria radical. Com isso, anunciou que o governo vai implementar, de imediato, um plano de segurança para superar os efeitos do desabastecimento causado pela paralisação. “Acionei as forças federais de segurança para desbloquear as estradas e estou solicitando aos governadores que façam o mesmo. Vamos garantir a circulação e o abastecimento. O acordo está assinado e cumpri-lo é a melhor alternativa”, disse.
O presidente também foi duramente criticado por ter usado o termo "minoria radical". Culpam também o gabinete de crise de ter fechado acordo com pessoas que na verdade não representam os caminhoneiros autônomos e que, portanto, não teriam qualquer poder para implementar a trégua solicitada.
O resultado que a sociedade brasileira percebe é um governo federal ainda mais enfraquecido, um provável uso eleitoral da situação por parte dos congressistas, uma vez que o Senado ontem esteve vazio ao invés de tentar votar medidas que pudessem ajudar no impasse, e o bloqueio de diversas rodovias estaduais e federais em todo o País continuam afetando o abastecimento de produtos em diversos setores.
O ponto positivo é o desbloqueio do acesso a algumas refinarias e a abertura mesmo que parcial de algumas rodovias. Mas o movimento dos caminhoneiros, ainda que nos acostamentos ou em vias de acesso permanece bastante fortalecido.
Material de Construção
Enquanto isso, no setor de material de construção as opiniões se dividem. Boa parte dos lojistas apoia as reivindicações publicamente. Há, inclusive, quem anuncie em redes sociais que aderiu à greve e alguns inclusive fecharam as portas fechadas ontem. Outros, que representam a maioria, apoiam o movimento, mas defendem uma solução para o caos que se instala no País.
Ontem também mais uma indústria de material de construção - a Rejunte Fácil - comunicou aos clientes sobre a impossibilidade de cumprir alguns prazos de entrega de mercadorias. E alguns atacadistas também informam que estão com páteos cheios, caminhões carregados, mercadoria faturada, mas tudo aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Hoje, a Obramax, atacarejo inaugurado em janeiro em São Paulo, cancelou sua programação de cursos na loja, diante da impossibilidade do palestrante de chegar até São Paulo por via aérea.
Como publicado na quarta-feira - no terceiro dia de greve - aqui no Portal da Revista Anamaco On Line - a Votorantim Cimentos foi a primeira indústria a informar que estava tendo dificuldades para distribuir seus produtos em boa parte do País desde segunda feira (21 de maio), quando as interdições das estradas começaram. Na quinta, foi a vez da Weber Saint-Gobain emitir um comunicado informando que, devido aos bloqueios dos principais acessos e rodovias, é possível que haja atraso nas entregas dos produtos. Cimento é considerado um produto de alto giro nas lojas de material de construção, por isso o primeiro impacto para o setor foi a falta desse produto. Antenor Novakoski, presidente da Federação das Associações dos Comerciantes de Material de Construção de Santa Catarina (Fecomac-SC), lembra que as revendas do setor têm por rotina receber cimento quase que diariamente. Dessa forma, essa foi a primeira baixa sentida no segmento.
Bom humor dos lojistas nas redes sociais Lojistas apontam a carga tributária
De acordo com Novakoski, além do cimento, lojistas de Santa Catarina já estavam sofrendo com a falta de ferro e material básico, como areia. “Não são apenas as pequenas empr esas da nossa região que estão desabastecidas. Os home centers também já foram afetados”, reforça.
Novakoski conta, ainda, que algumas indústrias de tintas, PVC e cerâmica cancelaram as entregas. “O clima está tenso porque além de não termos alguns produtos, a greve deverá afetar as vendas das demais linhas. Aqui no Estado o clima é de feriado”, lamentou o líder local.
Apesar dos transtornos causados, o movimento está recebendo apoio popular - há diversas campanhas nas redes sociais em favor da categoria – e também de entidades de classe. A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), por exemplo, em nota, destacou que a entidade representa um setor que movimenta, nacionalmente, uma frota de 100 mil caminhões e abastece, todos os dias, mais de 5.570 municípios e que o efeito do diesel nos custos das empresas do setores é grande e já tem pressionado o preço dos produtos nas gôndolas e que analisando sob esse aspecto, a mobilização é legítima. Por outro lado, entende que o recurso da greve, nos moldes em que ocorre, trouxe e tem potencial para ocasionar mais prejuízos para a sociedade.
Já no terceiro dia de protestos dos caminhoneiros, o varejo do setor começou a sentir os reflexos da paralisação. Com a impossibilidade da indústria de entregar, rapidamente, as lojas começaram a ser afetadas. Desde então, de acordo com o presidente da Fecomac-SC, as revendas do segmento, na região de abrangência da entidade, começaram a sentir o desabastecimento de produtos considerados de giro rápido como o cimento. “Eu acredito que a manifestação terá um impacto muito grande sobre o setor”, lamentava Novakoski.
Segundo o presidente da Fecomac-SC, a saída, em princípio, para não deixar os clientes sem mercadorias, será comprar dos distribuidores. “Quando os lojistas perceberem que as marcas líderes estão em falta, vão tentar honrar seus compromissos entregando outras marcas secundárias”, opinou.
Na região de Campinas, no interior paulista, a situação também era similar: o cimento está sumindo das prateleiras. Wilson Takashi, presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção (Acomac) de Campinas, conta que as revendas locais estavam com dificuldade em receber o produto de várias cimenteiras. “Tentou comprar indiretamente, por meio de dois distribuidores, mas as tentativas foram em vão. Eles estão sem receber desde terça-feira e também não têm o cimento para vender”, completa Takashi.
Segundo ele, o entrave maior está acontecendo com as empresas que terceirizam as entregas e quando o serviço é próprio da indústria o problema não estava ocorrendo.
Luiz Augusto Gonçalves Barbosa, diretor do Depósito Zona Sul (SP), diz que desde terça-feira – segundo dia da greve- está sentindo o reflexo da paralisação. Ele comenta que uma marca de cimento já deixou de entregar e que, diante da falta do produto, na venda já oferece o item de outra empresa para o cliente. “Ainda não estão estamos tendo grandes problemas, mas é uma situação grave”, conclui.