Inadimplência ameniza
Texto: Redação Revista Anamaco
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) apurada, mensalmente, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) continuou avançando pelo segundo mês, alcançando 77,1% em março. Embora ainda abaixo do resultado de março do ano passado (78,1%), esse é o maior percentual desde setembro de 2024.
Apesar desse aumento, o mês apresentou uma leve melhora na percepção do endividamento, com a queda do percentual de pessoas que se consideram “muito endividadas” alcançando 16,0%. No entanto, o percentual daquelas que “não têm dívidas desse tipo” também reduziu e em maior intensidade, indo para 22,9%, com incrementos nas categorias intermediárias, mostrando maior equilíbrio do perfil de endividamento.
Na análise da entidade, o maior endividamento não pode ser considerado prejudicial porque não foi acompanhado por uma alta do percentual de inadimplência, que permaneceu em 28,6%.
O estudo indica que o percentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso continuou sua tendência de queda pelo terceiro mês, indo para 12,2%. No entanto, ainda permanece acima do apresentado em igual mês do ano passado.
Além de terem mais condições de pagar as contas atrasadas, os consumidores estão conseguindo reduzir o tempo necessário para ficar em dia com suas dívidas. O percentual de famílias inadimplentes por mais de 90 dias vem recuando há cinco meses, chegando a 47,6% do total de endividados em março deste ano, o menor indicador desde maio de 2024.
Um fator desfavorável do mês, revelado pela pesquisa, é que o percentual dos consumidores que têm mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas apresentou aumento, atingindo 20,8% e retomando o nível de janeiro. Contudo, o percentual médio de comprometimento da renda com dívidas permaneceu em 29,9% em março.
O levantamento mostra, ainda, que o percentual de contas atrasadas não teve alteração, e o das famílias que não terão condições de pagar as contas atrasadas teve recuo, o que pode mostrar que o crédito está sendo utilizado para quitar dívidas inadimplentes antigas.
Nesse cenário, nas modalidades de crédito, o cartão de crédito continuou tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 83,7% do total de devedores; contudo, houve retração de 3,2 p.p. na comparação com março de 2024. A categoria de carnês se destacou novamente este mês, com aumento de 1,3 p.p. na comparação anual, permanecendo como a segunda categoria mais utilizada, estando 6,9 p.p. acima da terceira categoria, crédito pessoal, que avançou apenas 0,2 p.p.
Ao analisar os dados desagregados por renda, na comparação mensal, o aumento do endividamento ocorreu na maioria das famílias, principalmente entre aquelas que recebem acima de 10 salários mínimos (+1,1 p.p.). Contudo, diante de março do ano passado, teve a maior retração (-4,8 p.p.).
Já o percentual de inadimplência desse grupo (+0,2 p.p.) e o dos sem condições de pagar as dívidas atrasadas (+0,1 p.p.) foram os únicos com avanço. Os consumidores com renda entre cinco e 10 salários apresentaram a maior redução mensal do percentual de famílias inadimplentes (-1,1 p.p.). Enquanto aqueles com renda entre 3 e 5 salários se destacaram com avanço na comparação anual (+1,8 p.p.) As famílias de menor renda, que recebem até três salários, foram as que apresentaram o maior avanço no endividamento em relação ao mesmo período de 2024 (+1,0 p.p.). Isso revela que as famílias com menor renda estão recorrendo mais ao crédito para amenizar a inadimplência.
Projeções da CNC mostram que o endividamento deve continuar aumentando ao longo deste ano, com as famílias sentindo maior confiança em utilizar o crédito para o consumo e para amenizar sua situação financeira. Além disso, a inadimplência deve continuar arrefecendo marginalmente ao longo de 2025.
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