O impacto das reformas no varejo da construção
Texto: Redação Revista Anamaco
O economista, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-ministro de Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, deu continuidade ao primeiro dia de conteúdo do Encontro dos Comerciantes de Material de Construção da Bahia (Ecomac-BA) e abordou o tema “O impacto das reformas no varejo de material de construção”. O evento acontece no Vila Galé Guarajuba até o próximo domingo.
Com a autoridade de quem há mais de 30 anos atua no mercado, em um tom descontraído e sem adotar o “economês” para falar sobre o assunto, Mendonça de Barros lembrou que a transição do Regime Militar brasileiro para a democracia foi feita sem derramamento de sangue e culminou com uma nova Constituição. Segundo ele, a geração de políticos daquela época, que inclui Ulysses Guimarães e José Serra, tinha a consciência de que haviam conseguido uma transição extraordinária e tinham quase um dever com a sociedade de criar um Estado que suportasse a população mais pobre. “A origem da Constituição e da crise fiscal que vivemos hoje é a mesma”, destacou. Na sua percepção, com a Reforma da Previdência, voltamos aos problemas gerados na Constituição de 1988, que determina as condições da economia hoje.
Em sua apresentação, mostrou um gráfico do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desde 1996 - período de inflação controlada. Os dados mostraram que, em 22 anos, a taxa de crescimento brasileiro foi de 2,7% ao ano. “Esse é o metabolismo da economia brasileira, que cresce muito pouco. Não vamos crescer mais enquanto não resolvermos essa amarra fiscal gerada pela Constituição”, explicou.
Em outro momento, mostrou, desde 1947, a evolução da carga tributária da economia brasileira. Segundo ele, a carga tributária é o DNA da economia. E ela nada mais é do que a soma de todos os impostos pagos pela sociedade em relação ao PIB. O economista comentou que até 1964 a carga brasileira era de 16% e que, depois da Constituinte, lentamente ao longo de dez anos, passou para 24%. “O primeiro impacto da Constituinte foi o aumento dos impostos e não parou por aí”, salientou.
Ele explicou que isso aconteceu porque o efeito da Constituinte na estrutura do gasto do Estado ocorreu em três momentos: quando ela ficou pronta, quando obrigou a Congresso a fazer uma série de leis regulando o que estava na Constituição e a interpretação do Judiciário sobre o que estava na Constituição. “O Brasil tem uma carga tributária igual a de países desenvolvidos. Esta é a incompatibilidade que vivemos. O esforço que vem sendo feito tem o mesmo efeito de enxugar gelo. Se tenta mexer na estrutura de gastos de governo, mas quando chega ao Judiciário não pode mexer porque está na Constituição. Essa é uma armadilha”, declarou. Dessa forma, para arrecadar 34% em impostos, nas palavras de Mendonça de Barros, a Receita Federal tem de “assaltar” a população.
O economista garantiu que o Brasil vai voltar a crescer. E fazendo um recorte para a construção civil mostrou outro gráfico com o desempenho do PIB do setor. Os números mostram que, desde 2013, o segmento registrou uma queda continuada, mas a curva está voltando a ser ascendente. “Isso chama-se recuperação cíclica, ou seja, o Brasil passou por uma queda de atividade econômica brutal e quem mais sofreu foi a construção civil”, disse.
De acordo com o palestrante, quando a ex-presidente Dilma Rousseff se elegeu para o segundo mandato, a economia já vinha desacelerando ciclicamente. Naquele momento, para tentar conter a crise, abaixou juros quando não deveria. E somente agora o País começa a ensaiar uma recuperação. “A partir de agora, podemos trabalhar com seriedade para a recuperação”, frisou.
O economista destacou que o setor tem de olhar para os indicadores de antecedentes para saber qual a dinâmica do segmento. Segundo ele, já há bons indicadores para o setor da construção, como redução da taxa de financiamento do crédito imobiliário por conta da queda dos juros; inflação baixa, melhoria no emprego e aumento do crédito bancário. “São sinais extraordinários. Com a Reforma da Previdência, a recuperação cíclica deve durar uns três ou quatro anos”, opinou.
Mendonça de Barros observou que todo esse cenário é com base na carga tributária praticada hoje. Ele disse que o País está saindo de um buraco, mas para que se chegue a uma onda de investimentos ainda há uma agenda imensa no Congresso Nacional.
Ao final da palestra, foi realizado um Painel de Debates sobre Reforma Tributária e Economia. Mediado pela jornalista Beth Bridi, diretora de Redação da Revista Anamaco, contou com a participação de Marcos Atchabahian, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco); do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros; do deputado Federal João Roma Neto; e de Renato Holzheim, diretor-Geral de Produtos para Construção da Saint-Gobain.
Depois das palestras, o período da tarde, de muito lazer e entretenimento, foi coroado com a realização do Piscinaço. O Rock Day foi embalado pelo som da Banda Máquinas da Pista.
No começo da noite, a atração ficou por conta da Banda Terráquea, que comandou e animou o Happy Hour. E a sexta-feira foi encerrada com muita animação com a Banda Psirico, que colocou os participantes do Ecomac para dançar ao som de músicas próprias e de canções de outros cantores e consagradas do público.
A cobertura completa da 28ª edição do Ecomac-BA poderá ser conferida na edição 311 da Revista Anamaco impressa
Fotos: Grau 10 Editora