O material de construção superando a crise
Texto: Redação Revista Anamaco
A Associação dos Comerciantes de Material de Construção da Bahia (Acomac-BA) realizou, na noite de ontem (27 de agosto), uma live com o tema “Como o material de construção vem superando a crise”. Apresentado por Alexandre Cohim, vice-presidente da Acomac-BA, o evento on-line contou com a participação dos lojistas baianos Luiz Marcel, diretor Financeiro das Lojas Buriti; Ricardo Campos, diretor da Casa Campos; e Artur Queiroz, diretor Comercial da Irmãos Queiroz.
Na abertura, Cohim lembrou que os três executivos são a segunda e terceira geração das famílias em seus respectivos negócios, mostrando que a sucessão nessas lojas já está garantida e caminhando a passos largos.
Entrando no tema da live, o vice-presidente da Acomac-BA observou que quando se fala em crise, há duas visões: otimista e pessimista. Segundo ele, no ideograma chinês, crise significa oportunidade e ameaça. “É muito isso mesmo. Como é que se encara uma situação de dificuldade, como oportunidade ou como um problema”, destacou.
Marcel, das Lojas Buriti, fez uma apresentação do Grupo e lembrou que o foco da empresa é o varejo, com atendimento direto ao consumidor final. “Agradeço o convite da Acomac. Esse é um momento único para trocarmos experiências e aprender. Essas ações fortalecem o setor como um todo. Não é hora só de olhar para o passado, mas é o momento de ajustarmos a operação pensando no futuro, na retomada e no pós-crise”, frisou.
ALEXANDRE COHIM LUIZ MARCEL
Campos, da Casa Campos, reforçou que falar da empresa é falar de 80 anos de mercado e de uma história, que já está na terceira geração na sucessão. “Enfrentamos muitas crises nesse período. Elas fazem parte da nossa história e dos desafios que cada geração precisa enfrentar para fazer os negócios crescerem. Vivemos um momento inédito porque, agora, a crise é de saúde, diferente das crises de caráter financeiro. Estamos todos diante das mesmas questões e enfrentando os mesmos problemas”, disse.
O diretor da Irmãos Queiroz, contou que a empresa familiar tem à frente dos negócios ele e mais dois irmãos e que toda crise tem oportunidades. “Onde tem gente chorando tem gente vendendo lenços. Estamos aqui, para juntos, encontramos o caminho para sairmos dessa crise”, observou.
Cohim pediu aos executivos que passassem a visão de cada um do período pré-pandemia, voltando para o final de 2019 e começo deste ano, quando as empresas estavam planejando 2020. Ele quis saber qual era a expectativa para este ano e o que estavam preparando para 2020.
Queiroz contou que, em dezembro, a empresa havia aberto um novo ponto de venda, o Outlet dos Pisos, havia ampliado o Centro de Distribuição (CD), os estoques, a equipe e a área de transportes, apostando que, como 2020 é de eleições, seria um ano bom. Entretanto, em março, os negócios começaram a cair e a empresa precisou refazer o planejamento. “Acreditávamos muito neste ano por todo o investimento que fizemos na nova loja e no CD”, reforçou.
Segundo ele, janeiro foi um mês bom, mas fevereiro, não. Ele justificou dizendo que abriu uma loja próxima a outra e sabia que isso poderia fazer com que roubasse o mercado uma da outra.
O executivo da Buriti comentou que o planejamento da loja é sempre feito a partir de setembro. Dessa forma, iniciou o ano com planejamento e orçamento do que seria desenvolvido em 2020. A expectativa, de acordo com ele, era abrir uma nova unidade e se enxergava um processo de expansão. Mas a pandemia surpreendeu a todos os lojistas. “Nos últimos cinco anos trabalhamos forte a gestão da empresa e, agora, vínhamos desenhando o processo de expansão. O nosso planejamento precisou ser refeito e tivemos de repensar todo o cronograma de trabalho.”, lembrou.
Marcel observou que o forte da empresa, como para o segmento como um todo, é o segundo semestre, e que janeiro e fevereiro, geralmente, não é aquecido, mas comentou que o desempenho estava dentro da programação.
No ideograma chinês, crise significa oportunidade e ameaça
Campos contou que, embora as três lojas estejam em localidades diferentes no Estado, o otimismo também era grande na Casa Campos. Ele lembrou que a expectativa era de retomada na economia, com a implementação de políticas públicas em âmbito federal. Fazendo um recorte para o Oeste baiano, onde a empresa está localizada, o executivo ressaltou que os resultados do agronegócio, desde 2019, eram positivos e havia previsão de safra recorde para 2020. “Essas informações nos credenciavam a fazer um planejamento um pouco mais robusto e com expectativa maior para 2020”, explicou.
Mas, março chegou e, com ele, veio a pandemia de coronavírus. O executivo da Casa Campos disse que os primeiros dias daquele mês ainda eram de expectativas positivas e que a empresa ainda colhia os frutos de janeiro e fevereiro. “Fomos para São Paulo participar da Expo Revestir, negociar com fornecedores e observamos a expectativa de bons volumes de negócios na feira e, nos primeiros dias da exposição, pouca preocupação com a pandemia. Mas tudo aconteceu muito rápido. Ainda durante a Revestir, começamos a perceber uma mudança de comportamento”, frisou.
Ele lembrou que quando chegou de volta às lojas de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, de pronto, precisou fazer alguns movimentos internos, com comunicação com as informações, que se tinha no momento, para levar segurança à equipe e aos clientes.
Segundo ele, a partir de 23 de março, quando saiu o primeiro Decreto da Prefeitura de Barreiras, determinando o fechamento do comércio por 15 dias, surgiu o primeiro desafio. “Como enfrentar 15 dias de loja fechada, sem faturamento, com equipe parada, títulos para pagar e os compromissos de folha de pagamentos? Foi um desafio severo, mas tivemos de negociar com os fornecedores e decidir o que fazer com a equipe. O desafio foi trabalhista e financeiro”, explicou.
RICARDO CAMPOS ARTUR QUEIROZ
Marcel comentou que o Decreto, determinando o fechamento do comércio em Itabuna, foi publicado em 19 de março e, na semana seguinte, o mesmo aconteceu em Ilhéus. Naquele momento, foi criado um comitê para discutir a situação, repensar o negócio e definir as ações que poderiam ser implementadas. A equipe foi dividida em dois times: um que pensa na sobrevivência da empresa e outro no processo de reestruturação e pensando no futuro da companhia. “Estabelecemos quatro pilares, que nortearam tudo que passamos nesse período: segurança e processos; liquidez; relacionamento e foco nas vendas”, revelou.
Na Irmãos Queiroz, o diretor completou dizendo que um dos grandes desafios foi a incerteza do mercado. Diante dessa nova realidade, a decisão foi frear os investimentos, como a reforma da loja matriz, refazer o planejamento e negociar com os fornecedores. “Agora, o planejamento é feito diariamente porque todo dia muda alguma coisa. Fomos descobrir o que os clientes estavam procurando comprar no meio dessa pandemia”, destacou.
Apesar da crise ainda não ter sido solucionada, o movimento nas lojas melhorou. Na avaliação de Cohim, o momento de crise mais aguda ficou para trás. Analisando o mercado da forma como está hoje, os executivos revelaram que ações estão implantando para enfrentar o momento atual. Marcel destacou três pontos: considerando que algumas indústrias estão com dificuldades para repor os estoques. Sendo assim, a empresa está reavaliando o mix e, em alguns casos, está incluindo novos fornecedores e buscando parceiros para suprir a falta de algumas indústrias, que não estão atendendo.
A manutenção do auxílio emergencial, até o final do ano, deve continuar fazendo diferença porque a injeção desse capital faz a economia girar
Como as Lojas Buriti atendem em microrregiões, outro ponto que recebe atenção da empresa é a logística, que foi reforçada com a compra de caminhões. O terceiro pilar é o e-commerce, que permite atender aos clientes à distância. “Esses três fatores têm norteado as nossas ações”, revelou.
Campos comentou que está fazendo aumento gradual dos pedidos para garantir o abastecimento. Segundo ele, a empresa também sentiu dificuldade em ser atendida por algumas indústrias e foi em busca de novos fornecedores para suprir a falta de mercadorias. “Estamos fazendo, de forma emergencial, a abertura de novos fornecedores de produtos e marcas similares para conseguir atender à demanda”, frisou.
O executivo destacou que, em março, decidiu manter os investimentos em mídia. Dessa forma, a partir de maio, decidiu fazer um incremento maior nesses investimentos sob dois aspectos: promocional, para garantir as vendas e estimular o consumo, e institucional, uma vez que a Casa Campos completa oito décadas de atividades este ano. “Estamos fazendo uma campanha bem grande para falar sobre o momento. Estamos trocando alimentos por máscaras. O cliente pega a máscara e doa o alimento para distribuirmos em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. Já ultrapassamos uma tonelada de alimentos em doações”, contou.
Queiroz revelou que, ao contrário da Casa Campos e das Lojas Buriti, a empresa diminuiu o número de fornecedores e passou a apostar nos dez produtos que mais giram. Segundo ele, além disso, “segurou” a entrada de novos produtos no mix e criou o canal “Reforma de Boa” para dar dicas e estimular as vendas dos produtos do chamado “Faça Você Mesmo”.
Depois de um ano atípico com uma crise inesperada, Cohim questionou os executivos sobre o futuro dos negócios e sobre essa nova forma do brasileiro enxergar sua casa, que passou a ser encarada sob um novo prisma.
Na avaliação de Campos, sob a perspectiva nacional, a manutenção do auxílio emergencial, até o final do ano, deve continuar fazendo diferença porque a injeção desse capital faz a economia girar e tem sido preferencial o gasto desse dinheiro com material de construção. Segundo ele, ainda que o valor do recurso seja diminuído pela metade, ainda continuará sendo uma injeção importante de valores. Campos destacou, ainda, que o anúncio do Programa Casa Verde e Amarela deverá trazer uma nova perspectiva e abre um sinal verde para o setor. “Esses movimentos do Governo Federal devem manter esse otimismo e poderemos esperar bons resultados até o final do ano”, opinou.
Segundo ele, examinando o Oeste da Bahia, onde a empresa atua, é preciso ter atenção porque, diferentemente do que aconteceu em outras áreas, os casos de coronavírus chegaram nos últimos meses e a região ainda está com uma sequência muito grande de decretos. “Ainda estamos sofrendo com números alarmantes de contaminação e mortes por coronavirus”, observou.
O executivo da Irmãos Queiroz concordou com a visão de Campos e completou dizendo que a loja deve se adaptar à nova realidade do mercado. Ele observou que alguns produtos passaram para o radar dos clientes, como lixeiras com pedal e torneiras automáticas, por exemplo. “Precisamos ficar atentos ao que vai sair mais e o que só chamou a atenção nesse momento de pandemia”, explicou.
Marcel, por sua, vez, lembrou que, historicamente, o segundo semestre é o período mais aquecido para o setor. Ele concordou com Campos sobre a manutenção do auxílio emergencial e destacou que a combinação dessa manutenção com o bom histórico do segundo semestre e com as ações que a empresa têm traçadas para os últimos meses do ano, podem dar condições da empresa crescer.
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