Reajuste de preços: abusivo ou necessário? - Revista Anamaco

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Reajuste de preços: abusivo ou necessário?

Texto: Redação Revista Anamaco

Um assunto em alta nas últimas semanas no setor de material de construção, o tema da videoconferência realizada ontem, dentro da série Talks, da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), foi “Reajuste de Preços são abusivos ou necessários?”.
A live teve a participação do presidente da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer) e do Sindicato das Indústrias Cerâmicas do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindicer/MS), Natel Moraes; do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico, Transformação e Reciclagem de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast) e 2º vice-presidente da FIESP e do CIESP, José Ricardo Roriz Coelho; além da presença do presidente da Anamaco, Geraldo Defalco; e do mediador e superintendente da entidade, Waldir Abreu.
O cenário imposto pela pandemia de Covid-19 trouxe muitos desafios ao setor de material de construção. Inicialmente, pelo fechamento das lojas e redução e até mesmo paralisação da produção de algumas indústrias, depois pela retomada muito forte do consumo, diante da necessidade das pessoas de ficarem mais tempo em suas casas, seja por conta do confinamento ou por passarem a trabalhar em home-office.
O que se vê agora, no entanto, é a dificuldade das indústrias em retomarem a produção para atenderem à inesperada demanda, com elevação de preços e do dólar, que afeta a importação de matérias-primas necessárias à fabricação de inúmeros itens.
As primeiras análises foram realizadas por Coelho, que iniciou sua explanação destacando a necessidade de entender bem o momento. “Tivemos uma queda de vendas vertiginosa em março e abril, mas o governo injetou R$ 55 bilhões para 61 milhões de pessoas. Considerando os cinco meses de auxílio emergencial foram mais de R$ 250 bilhões concedidos, além das linhas de crédito. Para se ter uma ideia, quando o governo Temer liberou R$ 37 bilhões, do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), tivemos aumento de 0,3% do Produto Interno Bruto. A diferença, agora, é que muitas dessas pessoas não são bancarizadas e o dinheiro está indo direto para consumo. Essas pessoas não têm nem como poupar”, explicou.
Segundo o executivo, de uma hora para outra, a cadeia e o mercado internacional, que estavam parados, tiveram de voltar rapidamente, o que gerou a dificuldade inicial de produção. Enquanto isso, o comércio em geral que estava sem vender começou a repor seus estoques. Além disso, as vendas pela internet também mudaram muito as característica das vendas, exigindo adaptação da produção.
Para Coelho, o desafio é ter uma produção mais estável, passar por um ou dois meses com dificuldade de abastecimento e encontrar os gargalos, que são também logísticos, dadas as vendas por comércio eletrônico, que mudou o sistema logístico das indústrias e do comércio e está se adaptando à nova situação. As dificuldades de abastecimento passam, ainda, pelo problema de recebimento das matérias-primas, o que exerce ainda mais pressão na equalização da produção diante da forte demanda.
O presidente da Abiplast enxerga um cenário de estabilidade nos próximos dois meses e futura. “Teremos um crescimento negativo próximo a 6% neste ano. Se considerarmos um crescimento de 3,5% em 2021, segundo o relatório Focus, significa que estaremos trabalhando no primeiro trimestre nos mesmos níveis que trabalhávamos antes da pandemia. Com isso, temos capacidade e matéria-prima suficientes e os preços devem se estabilizar no patamar de agora”, avaliou. Lembrando que é preciso tomar muito cuidado, agora, com a transferência de margens, especialmente em segmentos bastante concorridos.

Dúvidas no curto prazo

Na opinião de Coelho, a grande dúvida é: o que ocorrerá quando acabar o auxílio emergencial? “A partir de janeiro, as coisas voltam ao normal, com o Bolsa Família. Nada indica que será possível sustentar esse patamar, porque o governo não tem dinheiro para isso. O endividamento que estava em 67% estará em 100% até 2022. O auxílio também garantiu alguns empregos, mas mantê-los dependerá da situação de mercado. Vamos passar por situação com escassez, preços altos, pela desorganização do mercado, pelo câmbio elevado, mas depois terá readequação em patamares mais baixos, até para manter a econômica funcionando. Subir preço por subir levará ao aumento de inflação, de juros, queda de demanda e de preços”, disse.
Abreu lembrou que foi surpreendente a capacidade de atendimento das lojas do setor em todo o Brasil, mas o momento ainda exige serenidade para passar o mínimo de insegurança para o consumidor e não assustá-lo. “O maior erro que uma loja poderia cometer é achar que a situação vai perdurar por muito tempo. Na melhor da situação estaremos no mesmo nível de mercado de janeiro. Os problemas que tínhamos antes da pandemia, no entanto, não foram resolvidos e foram adicionados outros, como maior endividamento do governo, das famílias e das empresas e a possibilidade de aumento do desemprego”, afirmou.
Moraes, por sua vez, explicou que o setor cerâmico não tem indexação em dólar, mas desde 2012 vem sentindo a queda da demanda, depois de ter feito muitos investimentos para atender ao Programa Minha Casa, Minha Vida. “Quando o mercado caiu, caiu de uma vez, colapsando muito o segmento. A energia elétrica subiu 120% no período, os preços caíram 40%, o custo de mão de obra se manteve e houve fechamento de 20% de fábricas, além da demanda ociosa por conta da redução de 40% das vendas”, contou. “Os preços estão subindo porque quando veio a pandemia, a produção parou, mas o custo é o mesmo. As fabricas já vinham paradas e fecharam mais ainda porque não aguentaram os efeitos da pandemia”, lembrou. “Espera-se uma normalização daqui para frente, os empresários estão mais animados com o Casa Verde e Amarela, voltando à produção”, destacou.
Dessa forma, ele acredita, será possível colocar mais produto no mercado, suprindo sua falta e normalizando o preço. “A conta ficou mais cara e todos estão pagando. O setor está mais animado, mas sempre com o pé atrás, se precavendo. Não acreditamos que isso se perdure para depois de janeiro. Teremos os mesmo problemas e mais agravados, vamos torcer para haver uma agenda das reformas que o Brasil precisa”, observou.
No que se refere ao varejo, Defalco observou que, logo no começo do pagamento do auxilio emergencial, não havia tanta discussão de preço, porque havia injeção de recursos na economia e não havia referências. “Hoje, diferentemente, já percebemos que o consumidor faz cotação, analisa, compara e volta o que vai comprar aqui e lá. Esse movimento começa a equilibrar os preços do mercado”, avaliou.
Para ele, a curva vai diminuir, mas com crescimento leve sobre o que ocorria antes da pandemia. “Ainda há demanda para depois do fim do auxilio porque muitos têm reservas e com Selic baixa pode ser que vá para o setor imobiliário e ainda tem o programa Casa Verde e Amarela”, disse. “Nosso problema econômico é crônico e antigo, que são os gastos do governo fora do que deveria ser. O orçamento direciona recursos para onde não pode mexer e a máquina é muito pesada”, comentou.
Defalco defende a necessidade das reformas tributária e administrativa e de direcionar recursos à infraestrutura, que seria seguida por outros setores acompanhariam, gerando crescimento sustentado e constante. “O que podemos fazer como entidade é orientar, trabalhar ao máximo por novas regras no setor, brigar para não haver aumento de impostos e manter o ritmo de desenvolvimento de vendas. Temos muito o que fazer pelo setor”, salientou.
Coelho lembrou que a queda da taxa de juros que é muito boa para o setor da construção, que deverá receber recursos externos, e os projetos sociais, como a Casa Verde e Amarela, deverão ajudar a atender a 90% da população brasileira com IDH (Índice de Desenvolvimento Humanos) igual do Suriname, sem capacidade de consumo. “Os projetos sociais virão muito forte e os governos sustentam sua popularidade com esses projetos. Esses programas de construção de imóveis, para a camada mais pobre, vêm muito forte, assim como as micro agendas, com relação a gás e saneamento com investimentos maciços, que vai movimentar o setor. Se gasta muito pouco com infraestrutura, mas há investimentos programados para os próximos anos, que serão melhores para o setor da construção, a tendência é melhor ambiente de negócios a partir do segundo semestre do ano que vem”, ressaltou.
Moraes vê otimismo no setor, que vem investindo diante das boas perspectivas para o segundo semestre do ano que vem. “Deverá haver uma queda da demanda, mas não abaixo do nível que estava antes da pandemia, os números deverão ser melhores. Esperamos uma alavancagem maior no segundo semestre. Os investimentos e plantas que estavam parados estão retornando e sendo reformuladas para indústria 4.0. Para os industriais, é muito ruim não ter como atender ao cliente. Hoje, a pressão é muito grande e temos de administrar a logística para não deixar faltar para ninguém”, disse.
Ao finalizar sua participação, Moraes disse, ainda, que a retomada não foi mais rápida porque no Brasil é muito caro recontratar. “Quando a indústria vai ligar um forno, precisa ter a certeza que o mercado terá continuidade, porque a rescisão de trabalho é muito cara. Em momento como esse, vemos a importância da desoneração da folha, porque seria mais rápido o alinhamento”, comentou. “Quem faz o preço é o mercado, e o mercado é esse agora. É bom conhecermos o momento e nos adequarmos e esclarecermos as pessoas sobre o assunto”, completou Coelho.
Para concluir, Defalco reafirmou o papel das associações de serem ativas junto ao Governo Federal, levando propostas de melhoria, de desoneração, de geração de empregos. “Sou otimista, temos muito a fazer pelas nossas entidades, associados e ao País. Meu recado é acreditar nesse País, pois a pandemia nos trouxe forma de reinventar, de sobreviver”, complementou.

Foto: Adobe Stock

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