Varejo da construção e os reflexos da paralisação
A semana de protestos dos caminhoneiros, que reivindicam, entre outras coisas, a queda no preço do óleo diesel, teve como reflexo prejuízo para a economia como um todo. De acordo com José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a estimativa é de que 40% das atividades do setor tenham sido atingidas, comprometendo negócios de R$ 2,4 bilhões.
No varejo de material de construção, o final de semana - o primeiro após o início dos protestos - foi atípico. De acordo com Claudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), as vendas caíram 40% de forma generalizada em todo o País. “Foi o pior sábado dos últimos 20 anos”, lamenta Conz.
Sandro Lima, gerente Comercial da R&S Materiais para Construção, com sede em Vilhena (RO), confirma que o movimento na loja recuou no final de semana e que o percentual de queda deve ter ficado em torno dos 20%. “Ainda não há caos no setor, mas não há mais cimento para a venda e temos mais de 25 notas paradas na estrada”, explica.
Fabricio de Oliveira Rebouças, diretor da Beira Rio Construção e Acabamento (MT) diz que, como o estoque das unidades do Grupo era alto, não chegou a sofrer com a falta dos produtos, mas salienta que o cimento deverá acabar hoje. Segundo ele, as lojas começam a sentir, também, a falta de alguns modelos de pisos. “O movimento nas nossas revendas ainda não caiu, mas a nossa preocupação é com o futuro porque mesmo quando a paralisação terminar, vai demorar a regularizar as entregas. Já está na hora de parar”, declara.
Sergio Vaz Filho, diretor Comercial da Casa Mimosa Hidráulica e Acabamento (SP), comenta que o movimento no sábado ficou bem abaixo do normal e avalia que o fluxo na loja teve queda de, aproximadamente, 30%. Por outro lado, a revenda, segundo ele, não sentiu o desabastecimento. “A paralisação afetou o movimento, mas não sofremos com a falta de produtos porque temos um estoque alto. Entretanto, alguns itens que eram para ter sido entregues não chegaram”, observa.
No interior do Estado de São Paulo, a situação é similar. Wilson Takashi, presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção de Campinas (Acomac Campinas), conta que, no último sábado, o desempenho das vendas das lojas associadas recuou quase 50% em relação aos sábados anteriores.
Também na Fornecedora Chatuba (RJ), o final de semana foi de negócios retraídos. Dalva Maria Gomes de Souza, diretora Executiva do Grupo, revela que a revenda registrou queda de cerca de 30% nas vendas em relação ao final de semana anterior.
Herivelto Bastos, membro do Conselho Deliberativo da Anamaco, conta que na cidade de Belém (PA), desde a semana passada, os lojistas sofrem com a falta de material básico, como areia e brita, e desde ontem o cimento também sumiu das revendas. Já no interior do Estado, segundo ele, os produtos não faltam, mas sem gasolina e diesel nos postos, foram os clientes que sumiram. "Os representantes comerciais dizem que está uma penúria no interior e que não vão mais para lá porque, depois, não terão como voltar para a capital", explica Bastos.
No sul do País, Valdecir da Luz Barcelos, presidente da Acomac Oeste do Paraná, lembra que, até quarta-feira passada, as vendas estavam normais em Cascavel (PR). Desde então, entraram em declinio. "A partir de quarta-feira, as vendas caíram quase 50%. Estão circulando apenas 30% dos carros. Grande parte da população está economizando combustível para uma emergência", conta.
Desabastecimento, que começou pela categoria de cimentos, já começa a afetar outros produtos. Material básico e pisos estão entre os itens que começam a ficar escassos ou sumir dos pontos de venda
O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) informa que, em decorrência da greve, apenas 5% da produção de cimento de todo o Pais está sendo entregue em seus destinos. Em média, são distribuídos diariamente 200 mil toneladas do produto no Brasil. Hoje, 96% da distribuição é realizada por transporte rodoviário.
O SNIC ressalta que, mesmo após o final da paralisação, será necessário um período de ajustamento de pelo menos duas a três semanas para que o funcionamento das fábricas de cimento seja normalizado.
Assim como o varejo de material de construção, lojas de outros segmentos também vêm amargando prejuízos. A paralisação está gerando um colapso para empresários e consumidores. Com a crise, o setor de abastecimento tem dificuldades para atender à demanda da população, que, assustada com as notícias, corre para os principais pontos de venda a fim de garantir o seu estoque. Segundo estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o reflexo para o varejo na cidade de São Paulo pode acarretar perdas de vendas de até R$ 570 milhões por dia. No cenário estadual, o prejuízo pode diário pode atingir R$ 1,8 bilhão e no nacional, R$ 5,4 bilhões.
De acordo com a entidade, o prejuízo nas vendas dos bens não duráveis como alimentos, remédios e gasolina pode ser visto como um primeiro alarme. No entanto, se essa greve persistir, o problema pode se estender para as vendas de bens duráveis como veículos, eletrodomésticos e material de construção - este último já vem sofrendo desde a última semana com a falta de cimento -, gerando uma crise geral para o setor.
Na noite de ontem (27 de maio), quando se completou sete dias de paralisação dos caminhoneiros em todo o País, em pronunciamento, o presidente Michel Temer anunciou diversas medidas na tentativa de conseguir colocar fim ao movimento, como a redução de R$ 0,46 no valor do diesel por 60 dias, e uma tabela mínima de frete.
Apesar do aceno do governo para acabar com a greve, a segunda-feira começou complicada para o brasileiro. Algumas estradas estaduais e federais seguem com bloqueios, aulas estão suspensas em algumas localidades, postos de gasolina seguem fechados (muitos com filas de motoristas à espera de abastecimento) e as empresas de ônibus colocaram um contingente menor de veículos nas ruas.