Varejo: o que dizem os levantamentos iniciais
Texto: Redação Revista Anamaco
A Cielo acaba de divulgar a pesquisa “Impacto do Covid-19 no varejo brasileiro”. Segundo o levantamento, até o dia 15 de março já é possível computar o reflexo da crise, embora ainda não seja muito pronunciado.
Segundo a pesquisa, realizada em todo o Brasil na primeira semana de março, o faturamento nominal no varejo recuou 3,8% em comparação ao mesmo período de fevereiro, enquanto na segunda semana, a queda chegou a 6% em relação ao mesmo período do mês anterior. Nesse cenário, os segmentos de turismo e de transportes foram os que mais sofreram, ao desacelerarem 41% entre fevereiro e março.
No sentido contrário, alguns setores estão “lucrando” com a pandemia, como é o caso das drogarias e farmácias, que elevaram o faturamento em 16,7%, e o segmento supermercadista, cujo faturamento aumentou em 13,6% entre fevereiro e março. Na relação com 2019, essa tendência se intensifica, ou seja, os supermercados crescem 23,1%, enquanto o faturamento de turismo e transporte recua 36,1%.
O Sindicato do Comércio Atacadista, Importador, Exportador e Distribuidor de Material de Construção e de Material Elétrico no Estado de São Paulo (Sincomaco) também fez um levantamento com a indústria e o comércio de material de construção. Realizado pela internet, entre sexta-feira (13 de março) e segunda-feira (16 de março), o estudo mostra que ainda não é consenso o peso negativo deste momento de crise nos negócios. Entre os entrevistados, cerca de 40% acreditam que o setor foi impactado em 15%, enquanto mais de 30% ainda não sentiram qualquer impacto. Há os mais atingidos, que representam cerca de 25% da amostra, que já perceberam uma alteração entre 15% e 30%, para menos.
Quando questionados sobre as estimativas para os próximos sete dias, pouco mais de 30% acreditam em demanda até 15% menor, contra 40% que esperam que a queda ficará entre 15% e 30% e quase 10% com expectativa de recuo acima de 30%.
Quando a pergunta sobre demanda se refere aos próximos dois meses, há um certo equilíbrio entre as opiniões: pouco mais de 20% dos participantes acreditam em desaceleração de até 15%. Outros 30% preveem queda entre 15% e 30%, mesmo percentual do que acham que o recuo será entre 30% e 45%. Nesse cenário, quase 20% esperam por uma queda entre 45% e 65%. Há, portanto, quase que uma certeza: os negócios vão recuar.
O varejo também opinou sobre o abastecimento dos pontos de venda. Segundo o levantamento, quase 20% afirmam que já foram afetados e citam falta de produtos; pouco mais de 10% acreditam que o desabastecimento pode acontecer nos próximos sete dias; 30% preveem falta de itens em 30 dias; pouco mais de 20% em 60 dias e quase 20% opinam que não haverá desabastecimento.
Por fim, entre as empresas participantes do levantamento, 60% não consideram dar férias coletivas ou paralisar as atividades nos próximos dias, contra 40% que acreditam que há risco de paralisação.
Claudio Conz, presidente do Sincomaco, destaca que nunca foi tão real o velho ditado “Enquanto uns choram, outros vendem lenços” e acredita que o setor da construção pode encontrar formas para driblar a crise e aproveitar esse momento para crescer. “Com crédito fácil e barato, as pessoas em casa sem fazer nada - ou mesmo trabalhando no esquema home office - sentirão a necessidade de ter um lar bonito e confortável”, acredita.
Na sua percepção, a reforma sempre adiada por falta de tempo e dinheiro encontrou uma ótima oportunidade para se concretizar nos planos dos brasileiros. “Todos sabemos as consequências de ficar em casa. A pintura que antes estava ruim ficará horrível. O pequeno vazamento, agora, tem ar de um enorme vazamento e as cerâmicas soltas ou faltando se tornam um verdadeiro pesadelo, pois serão notadas várias vezes ao dia”, exemplifica.
E como o varejo de material de construção está passando por esse momento nesta semana?
Hiroshi Shimuta, presidente da Nicom Com. Mat. Constr. Ltda., com sede na capital paulista, garante que o movimento de sua única loja não foi afetado. Segundo ele, desde o início do mês de março o ponto de venda "não registrou nenhum dia ruim", os negócios estão indo "de vento em popa" e não há queda nas vendas. Muito pelo contrário. O empresário conta que a loja esteve lotada no final de semana e ontem (16 de março), vendeu 10% a mais do que em outras segundas-feiras. “Os maridos estão em casa e estão vindo para a loja comprar”, destaca.
Em sentido contrário, algumas redes de home centers, ouvidas pela reportagem da Revista Anamaco, detectaram, hoje, fluxo de clientes em declínio nas lojas e afirmam que medidas para reduzir horário de atendimento não estão descartadas.
Paulo Esteves, diretor da Verdão da Construção e Acabamento (MT) e presidente da Acomac Mato Grosso, endossa a percepção dos home centers. Segundo ele, a partir de 11 de março, as vendas e o movimento de clientes nas lojas estão em declínio. O executivo comenta que tanto na sua empresa quanto nas associadas à Acomac, os negócios recuaram 15% desde então. Outra preocupação do executivo é com os estoques. Ele lembra que muitos produtos, como lâmpadas de LED e ferramentas, são oriundos da China e a tendência é que comecem a faltar alguns itens. "Tenho estoque de LED´s para 60 dias", revela.
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